☆ Natal 2019 ☆ Ocultos de Second

ㅤㅤㅤCHEGADA

ㅤㅤㅤDepois que Anton faleceu mergulhei mais no trabalho, mal tirava tempo para mim, fazia o básico fisiológico do corpo para não apagar de uma hora para outra. Nem encontrar a galera para beber a noite estava, não fazia a miníma ideia do cotidiano pela cidade.
ㅤㅤㅤO caso das meninas que eu investigava deu resultado, o pior possível para meus clientes, as crianças que desapareceram foram encontradas, mortas. Um pedófilo rodava a área do orfanato e da escola, demorou três semanas para descobrir e mais duas para achar os corpos. Só que eu não sou policial, todo o caso foi entre no departamento da polícia de Second, após eu levar os pais da menina que eu procurava no legista para que pudessem fazer o reconhecimento do corpo.
ㅤㅤㅤDado por encerrado aquele assunto, fui em busca de mais trabalho, dessa vez peguei um caso fora de Second. Mas não fui muito longe, o assunto estava acontecendo em Southtown, uma investigação para o departamento de imigração. Estava chegando muito imigrantes no porto e com agravante de ter muitos corpos nos contêineres.
ㅤㅤㅤ— O agravante é que corpos em decomposição junto com gente viva pode ocorrer transmissões de doenças. - o agente me falava.
ㅤㅤㅤEu estava com o ar tranquilo e sério, escorada na minha moto, foleando aquele arquivo que me entregaram. Pela fisionomia, estava deduzindo que eram asiáticos que estavam desembarcando ilegalmente por ali, não era estranho, mas não era algo que acontecia corriqueiramente, pela localização, o porto de Southtown e também de Second, era sempre usado por imigrantes latinos.
ㅤㅤㅤ— E o que você quer de mim que um agente seu não pode fazer? - questiono encarando o homem a minha frente, que nem me dei ao trabalho de gravar o nome.
ㅤㅤㅤ— Isso é um caso de corrupção dentro do departamento, então preferi não usar agentes dentro, ouvi falar do seu trabalho, tem interesse? - as palavras pareceram verídicas, mas aquele olhar estava estranho.
ㅤㅤㅤ— Então você quer um registro pra fazer uma denúncia pra corregedoria? E sem provas é sua palavra contra a deles. - afirmei devolvendo o arquivo. - Quanto vai ficar meu honorário e por quanto tempo terei que ficar coletando essas provas?
ㅤㅤㅤO cara me encarou, virou as costas e caminhou até o carro. Pra mim ele estava indo embora, me ajeitei no acento da moto, quase dei a partida, estava puxando o capacete quando ele pegou algo no painel do carro e girou para voltar até mim. Ergui uma sobrancelha observando-o, relaxei novamente e peguei o envelope.
ㅤㅤㅤ— Abra em casa, se aceitar os termos que estão aí, entre em contato com o número que está em anexo.
ㅤㅤㅤNão falei nada, prendi o envelope na barriga e fechei a jaqueta que usava, assim não teria possibilidades de perda. Antes de ir para casa me peguei indo em direção a região portuária de Southtown, como estava ainda no período do dia, claramente não havia nenhuma operação ilegal acontecendo, somente os descarregamentos rotineiros.

ㅤㅤㅤEu estava já na segunda semana da investigação do porto quando um e-mail estranho apareceu em minha caixa de entrada. Aquilo foi inusitado e totalmente sem sentido para mim, não conhecia a remetente, mas percebi se tratar de um evento de Natal de Second.
ㅤㅤㅤ— Quem são essas pessoas? - murmurei já totalmente dispersa do trabalho.
ㅤㅤㅤPeguei a jaqueta que estava jogada no escoro do sofá, a chave da moto no criado e o capacete que estava numa mesa perto da porta. Meu destino era o Pao Pao Cafe, provavelmente Bob Wilson poderia me ajudar a decifrar o que significava aquilo, fazia meses que não dava as caras no lugar, seria bom para distrair um pouco.
ㅤㅤㅤ— E aí, Bob! O que conta de novo? - sorrio pra ele com visível alegria de estar revendo-o.
ㅤㅤㅤ— Mary! Sumiu mulher! Cerveja? - o brasileiro com tererês no cabelo também sorriu para mim, a alegria dele era palpável.
ㅤㅤㅤ— Claro! Como vir aqui e não beber? HAHAHA!
ㅤㅤㅤ— Servindo. Sobre as novas, sua presença hoje será uma! E sei lá, as pessoas andam muito dispersas daqui, os rostos andam muito irreconhecíveis. - ele trazia a caneca de quase um litro esborrando para o balcão com um equilíbrio perfeito. - O que é bom para o negócio, já que mostra a fama do lugar. Mas, fico sem ver meus amigos!
ㅤㅤㅤ— É a vida, Bob. As coisas mudam que nem vemos. - respondo matando a cede com um longo gole na bebida.
ㅤㅤㅤ— É, nisso você tem razão. - ele assentiu.
ㅤㅤㅤ— Antes que você tenha que entrar na correria entre as mesas. Pode me ajudar com isso aqui? - levo a tela do celular com o e-mail para frente do rosto do lutador de capoeira.
ㅤㅤㅤ— Putz! Isso virou evento anual de Second, confesso que esse ano duvidava que teria, mas pelo visto aconteceu.
ㅤㅤㅤ— Mas como me acharam? Eu não conheço essa gente. - dei de ombros e voltei a guardar no bolso da calça cargo o celular.
ㅤㅤㅤ— Ixi! Longa história, nem vou me dá ao trabalho de contar. Vá no evento, descubra por si mesma. Pela sua cara e sua longa demora em aparecer, está mesmo precisando de distrações. - Bob piscou para mim e foi atender outra pessoa que encostava ali no balcão.
ㅤㅤㅤErgui a caneca em sinal positivo, como se fosse um brinde a sugestão dele e virei o resto da cerveja. Claro que eu aguardaria outra rodada, enquanto o brasileiro não enchia novamente a caneca, tirei aquele curto espaço de tempo para olhar o lugar em volta. Muita coisa havia mudado aos longos dos anos, até mesmo o Pao Pao, mas ainda era um lugar que trazia uma grande nostalgia de reuniões com a galera.

ㅤㅤㅤNão foi complicado para mim achar o endereço do local da festa, a direção estava clara nas informações que foram enviadas por e-mail. O que achei quase impossível foi localizar quem era a pessoa que enviaram como sendo meu amigo oculto, pior ainda foi achar o que comprar como presente.
ㅤㅤㅤCheguei na porta do apartamento um pouco deslocada, não tinha intimidade com quem estava ali, nem conhecia aquelas pessoas e estava dentro de uma festa de natal. Pra mim o e-mail que veio parar na minha caixa de entrada fora enviado por engano, me senti estranha, mas que estava ali, entrei cumprimentando uma mulher que falava sem medidas nas palavras com um simples aceno de cabeça e fui para a poltrona vazio do outro lado da sala.
ㅤㅤㅤ— Boa noite.