The Oldline

Chizuru Kagura
theMirrorOfJapan

O telefone tocava naquela sala, a funcionária responsável por atender estava em frente a impressora aguardando uma folha. Seus olhos foram para a mesa e de volta para a máquina. Abandonando a segunda e andando apressada para atender o aparelho, conseguiu no último instante o feito.
- Sim?
- Você conseguiu descobrir o que pedi? - a chefe da empresa questionava.
- Já. Mais uns instantes, estou imprimindo para lhe entregar.
- Aguardo.
E a ligação foi encerrada.
Chizuru Kagura parecia cansada particularmente naquele dia, estava sendo privada de fazer o que mais gostava, dormir. As atividades da empresa lhe tirava um bom tempo diário e os deveres no templo o outro tanto. E uma oscilação nas energias globais começou a preocupar a sacerdotisa. Depois de perder uma noite de sono, a mulher decidiu por localizar os outro dois protetores, ambos não se encontravam no Japão. A energia dos dois estavam dispersas e distante.
A porta se abriu e a secretária particular de Chizuru entrou, segurava papeis nas mãos e uma pasta preta.
- Aqui, Senhora. - ela dispôs primeiro a pasta. - Esse é o orçamento do departamento de tecnologia para sua aprovação. - Colocando agora os papéis avulsos completava. - Aqui está o que a senhora pediu.
- Hum. - Kagura passou o olho no orçamento e assinou. - Aqui, pode dar continuidade nisso.
Seus olhos foram para a localização exata de Kyo Kusanagi e Iori Yagami. Uma dobra se fez em meio as sobrancelhas da mulher, estava intrigada, os dois se encontravam na mesma cidade. Suspirando a mulher acabou murmurando sozinha.
- Estão ainda com essa briga de adolescentes. - pensando que ambos estariam competindo entre si. - Reserve um voo para hoje ainda, vou para os Estados Unidos, Mia.
- Claro, senhora. - a garota fez uma reverencia e se retirou com pressa.

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A música do ambiente estava abafada naquela sala, o lugar não era nenhum pouco atrativo, a mulher olhava os cantos e depois de muito decidir acabou por escolher uma cadeira precária para sentar-se.
- Eu ainda não entendo essa escolha sua.
- Não me importo, gosto dos palcos e de tocar.
A fumaça do cigarro impregnava o lugar, o homem ruivo estava em pé com a cara perto do vidro de uma única báscula que trazia um pouco de ar para aquela saleta. A mulher de longos cabelos castanhos abadava a cabeça não entendendo aquela escolha, mas um sorriso discreto dos seus lábios trazia o respeito por tal decisão.
- O que eu acho mais ruim que as condições do camarim, é sua presença nele Chizuru.
Ela o encarou ofendida.
- Não me leve a mal, mas sempre que você aparece, acontece alguma merda.
- Iori. Não é culpa minha.
- Eu sei, mas essa merda toda cansa. - ele falou apagando o cigarro na parede, jogando a guimba num canto e sentando largado no sofá que havia ali.
As condições não era das melhores, o móvel até rangeu com o peso do corpo do homem.
- Já encontrou o paspalho? - ele falou a encarando por poucos segundos e voltando sua atenção para seu instrumento musical.
- Quando vocês dois vão agir como adultos e parar com essa briga?
- HAHAHAHAHA... Não é briga, só gosto de mostrar para ele que não adianta querer ser o melhor, você sabe que Kyo não está páreo para nada, sem desafios o Kusanagi fica estacado.
- Não quero me meter nessa infantilidade de vocês, mas pensei que me falaria onde ele está. Ele também está aqui nessa cidade.
- Hum. - o ruivo começou a dedilhar o baixo e um sorriso apareceu em seu rosto. - Não sei, cheguei aqui tem pouco tempo para o show.
- Eu vou voltar para o hotel. Preciso dormir.
- Veio de moto? - Iori perguntou de repente ao ver a mulher se levantar.
Foi a vez de Chizuru sorrir.
- Não é só você que tem hobbies, Yagami.
Chizuru saiu do Old Line pelo estacionamento da casa de shows, sua moto de alta cilindrada estava parada lhe aguardando. O ronco do motor alto fez brotar um sorriso no rosto daquela mulher esguia. Ela encaixou o capacete e saiu noite a dentro, Second South parecia ainda ser a cidade que funciona à noite.

Sacred Treasure Warriors... Again?
Não era a primeira e nem seria a última vez. O passado sempre voltava a assombrar aquele homem. Os erros de seus antepassados, a aliança com os demais clãs, a missão de juntos terem de selar uma entidade demoníaca do Japão, que tentaria a cada mil anos erradicar a humanidade. Isso se ninguém tentar destruir o selo sagrado que o aprisiona no plano astral.

Desde pequeno, a música foi uma válvula de escape para Iori Yagami. Disciplinado por um pai cruel, treinado para seguir um caminho injusto e sangrento, o homem viu uma oportunidade única de poder se expressar através da música e suas apresentações. A maneira como ele se vestia, o instrumento que ele tocava, até mesmo as músicas que compôs. Tudo havia uma mensagem oculta, que só os mais espertos poderiam interpretar nas entrelinhas. O homem, que muitos tinham medo de se aproximar, que nunca viu vantagem em ter amigos ou se socializar, ele era um bom músico e muito famoso por onde quer que passasse. E não era de se admirar que este estava prestes a lançar mais músicas, como a Mugenkairo.

Mas havia uma coisa que ele detestava... e era ser incomodado antes das suas apresentações.

Quando foi notificado que uma mulher chamada Kagura Chizuru insistia para falar com ele, Iori já sabia o que estava por vir. Depois de casado, ele não permitia a entrada de ninguém mais ao seu camarim, apenas de sua mulher Coroline. Mas sabendo como a sacerdotisa seria insistente, ele acabou quebrando sua única regra, apenas dessa vez. Ao abrir a porta e permitir a passagem dela ao seu camarim, além de convidá-la a se sentar, ele, embora não aparentasse, ficou atento as coisas que ela tinha a dizer.

E ele sabia porque ela tinha vindo. A cidade estava cheia de monstros! Energias cada vez mais sinistras perambulam de um lado para o outro nas ruas de 2nd e isso com certeza dava calafrios na japonesa, que era muito sensitiva com essas coisas. Ela perguntava sobre o paradeiro daquele quem ele mais odiava, como se fosse uma obrigação do mesmo saber a localização doutro o tempo todo, mas surpreendeu-se ao saber pela boca dela que “ele também estava aqui.” Com isso, ele teve uma breve recordação do último encontro daquele trio de Tesouros Sagrado: nas montanhas de Aggtelek-karst.

—— Hu... “Infantilidade.” —— Ao bater a porta do camarim, após a saída da mulher, Iori voltou-se para sentar-se na poltrona que estava antes e pegou a sua garrafa de água, abrindo-a e sorvendo do líquido.

—— Isso foi apenas o começo de mais uma série de incômodos. —— Pensou alto, olhando para o teto.

Faltavam minutos antes do show começar. E com isso, Iori começou a fazer mentalmente todos os passos daqueles dois, os mesmos que sempre obrigavam ele ter de cooperar para impedir que alguma coisa ruim viesse à tona.

—— Hehehe... ah, já estou até vendo aonde isso vai dar. Por mais que faça mistério sobre suas intenções, eu sei muito bem o que se passa na sua cabeça. —— Disse ao se lembrar de todas as vezes que Chizuru recorreu ao ruivo.

Seus dedos passavam pelos acordes do baixo de rickenbacker, aparentando estar tocando uma música que contasse toda a saga, a história daqueles dois membros de famílias diferentes, que procuravam sempre se unir ao destino do homem amaldiçoado para caçar e selar, seres malignos e benignos, que podiam causar a ruína da humanidade. Um compromisso que ele se recordava muito bem nunca ter aceitado.

—— Logo você vai encontrar o Kusanagi, vai convencê-lo de vir até a mim... e então, ambos descobrirão... quais são os maiores males que percorrem por essa cidade... —— Ah, ele podia ver isso. Seria como se ele mesmo estivesse escrevendo os próximos dias, os futuros acontecimentos, mas por linhas tortas. Irônico pensar assim? Talvez seja. E ele estava ansioso para ver isso.

—— Vamos ver... o que nos aguarda. Huhuhuu. —— E com isso, ele levantou-se para ir lá fora, para o palco. Mostraria para aquele bando de infelizes o que era uma apresentação de verdade, o que era música de verdade. O Old Line tremeria nas canções e melodias daquele maldito ruivo do luar.

Mais uma terça-feira e Cassy está entrando na sua rotina novamente em Second. Viajar para fazer seu trabalho como fotógrafa as vezes complicava para o seu lado em manter o emprego de atendente da casa de shows. Ela entendia que precisavam de seus serviços e ficar se ausentando muito era prejuízo, foi por isso que a croata relevou o sermão que recebeu assim que chegou no trabalho naquele início de noite.

- Você avisa sua ausência, mas tem funcionário que nem se dá ao trabalho e quando coincide deles faltarem quando está em suas viagens eu fico na mão de uma hora pra outra, Cassy! Você é a única que permaneceu aqui, teve um que veio um dia para nunca mais.

- Entendo, mas até o final do ano eu não tenho mais viagens e vou tentar um modo de diminuir ou só fazer rotas curtas para estar aqui nos meus dias. Desculpa.

A gerente balançava a cabeça e dispensava a morena que já voltava para seus afazeres na casa de show, haveria um lançamento naquela noite e a casa estaria cheia, mesmo se tratando do meio da semana, visto que a banda era bem famosa e conhecida de um grande público.

- Você tem que relaxar, Bill!
- Concordo com o Carl.
- É que vocês não entendem a pressão sobre esse projeto público que o chefe jogou para cima de mim.
- Você dá conta. - fala Cassy com um grande sorriso no momento que coloca a bandeja com as canecas de cerveja na mesa para o trio de homens que chegara dez minutos atrás.
Os três observaram a mulher, com Carl dando um sorriso safado para a croata, mantendo o olhar na mesma enquanto ela ia para a outra mesa.
O Oldline estava saindo um bom lugar para trabalhar, a morena conseguia intercalar seu gosto pela fotografia com as escalas de trabalho na casa de shows. Aquele dia em especial, um grande show aconteceria ali, era apresentação da banda Judas Priest. Uma das paradas da turnê que a banda realizava, 2nd ter sido escolhida, estava deixando o lugar fervilhando. Um dos motivos da croata estar desfilando seu rabo naquele uniforme sensual em plena sexta-feira. A casa precisava de todos os funcionários para cobrir o atendimento ao grande público que havia surgido para o show.