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Dimensional Hunt.

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Dimensional Hunt. Empty Dimensional Hunt.

Mensagem  Convidado Qua Abr 10, 2019 10:23 am




Sinope: Keepler, um homem cujo o dom da magia o fazia se extravagar em seus experimentos, decide usar seus conhecimentos para trazer a sua velha amiga Tempestas de volta a seu lado, porém o experimento em si apesar de parecer ter sido um sucesso, deixou que algo a mais passasse para esse lado. Enquanto isso, do outro lado da história, Yue Yagami, aluno de uma das escolas presente na região de Philantropy Belfry, começa a vivenciar um evento diferente onde as pessoas se sentem acuados pela onda de assassinados e desaparecidos que passam a ocorrer na cidade. Sua atenção se torna maior ainda a esses problemas, quando na lista de desaparecidos se encontra um de seus amigos.

Postagens: O prazo é de até 15 dias! Em caso de os 15 dias passarem e nenhuma postagem ter sido feita, a moderação encerrará o tópico.

Participações: Somente Keepler Endeavour e Yue Yagami poderão postar! Personagens que podem estar na história e que se encontram no fórum, tiveram a sua permissão dada para aparecerem em nosso enredo.

Aviso: Essa história pode apresentar cenas grotescas e estranhas, assim como violência explicita. É altamente recomendado que você evite a leitura caso não se sinta à vontade com esse tipo de conteúdo.



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Dimensional Hunt. Empty Act. I - The Breach

Mensagem  Convidado Dom Abr 21, 2019 9:12 pm






”Não era o vazio, todavia sua presença imensurável apoderou-se de tamanha complexidade, que a palavra “existir” não podia simplesmente contê-lo em si. Quando chegou, tomou o céu noturno para si em um rubro mais profundo e mais intenso. Como se o espaço entre os astros fizessem parte de sua pele e, em uma mudança de postura, saindo das sombras dimensionais, sua verdadeira cor e seu rosto agora estivessem dispostos à mostra para todos nós. Em todos meus anos, viajando entre mundos, sempre tive uma noção da minha pequenez diante da imensidão dos universos… Contudo, nesse instante, eu senti minha existência insignificante, por mais único que cada ser possa ser… Essa criatura marcou minha mente em todas as camadas possíveis a ideia de que: Sua existência é um nada.

Por criar um templo de pavor dentro de mim, sobre as infinitas coisas profanas e ocultas por todo o infinito, ele rasgou uma porta de aço em minhas memórias… Deixando nessa fresta, uma luz negra passar, onde do outro lado só um pedaço de uma tela viva pode ser vista, algo que ainda não compreendo… Mas temo de um jeito não-natural.
Lutei muito para procurar as palavras e encaixá-las da maneira certa para relatar o que sentir ao ver aquele que foi chamado por Dean: a Besta Eterna.”



Sarah Forest, semanas atrás...

Os olhos lilases de End se abriram de maneira preguiçosa, voltados para cima, uma noite sem lua ou estrelas, no mesmo lugar onde avistou aquele ser. Assim como as águas de um rio caudaloso, o céu de 2nd Southtown não era mais o mesmo, nunca mais seria. Em termos filosóficos, isso não era uma novidade, todavia havia um sentido muito mais grotesco para o mago. A ideia de que a entidade na verdade nunca esteve de fato ausente, mas permanecia ali, em silêncio observando tudo, e que possivelmente não era a única tornava os momentos de mente ociosa bastante perigosos. Após ultrapassar a linha do ”achar que é vigiado” não há mais volta, ainda que Keepler já tivesse ultrapassado esse véu a séculos atrás e tivesse um conhecimento bem privilegiado sobre muitas coisas, se deparar com algo tão opressor foi a primeira vez. Quanto mais sabia, mais tinha certeza do oposto. Um amargo e curioso paradoxo.

Sua caminhada até a Sarah Forest foi tranquila, havia se passado vários meses desde a última vez que pisou ali, e apenas por determinados pontos é que só agora estava lá. Queria ter ido antes, deveria ter ido antes… Uma lacuna entre o querer e o poder fora mais larga do que imaginara. Muita coisa havia mudado, principalmente seu cabelo e suas vestimentas (Torso e Pernas), estava num processo de se refazer, se reconhecer e viver a totalidade de sua nova vida. Para o homem que estava acostumado a vestir-se como um mordomo a maior parte do tempo em uma postura formal quase solidificada de tão rígida, agora ele parecia um guarda florestal ou um punk qualquer da cidade. Não estava tentando ser mais jovem, ainda que não aparentasse em nada ser um humano milenar, isso transparecia o quão mais “solto” e leve estava, com ambos os pés no chão.

A floresta nem parecia ter sido testemunha de um embate feroz num passado pouco distante, o trabalho de reconstituição do ambiente foi bem cirúrgico por parte de Coroline. A copa das árvores faziam um movimento harmonioso para o lado o qual o vento soprava. A grama com variações distintas de plantas ultrapassava a altura do calcanhar, formando um imenso tapete de vários tons de cinza, com algumas trilhas de terra, provavelmente formadas pela caminhada constante de pessoas por ali. A natureza seguia o seu curso, renovada e devidamente equilibrada, o coachar dos sapos, o estridulo dos grilos e cigarras, junto ao pio das corujas e outras aves noturnas, esses pequenos detalhes sinalizavam que as coisas estavam bem. O único som emitido pelo homem era o do esmagar da terra embaixo de seus pés e a respiração forte devido a caminhada.

Em suas costas uma enorme mochila construía a imagem de um andarilho estrangeiro que estava de passagem procurando um local para acampar. O que era uma verdade, embora ele estivesse bem familiarizado com aquela área para ser considerado um estranho ali; os planos do mago não tinham nada haver com um passeio noturno ou uma experiência hippie, era trabalho. Deveria ficar no meio da mata pelo menos por umas duas semanas e por isso vinha tão bem preparado. Ele apoiou a mão esquerda no tronco de uma árvore, olhando para o centro da clareira onde ocorreu o embate contra a irmã postiça. Exatamente no mesmo lugar. Por qual motivo estava ali? Queria relembrar o evento. Não. Tenhamos calma, tudo vai ser esclarecido no tempo.

Armou a tenda com certa dificuldade, atrasando os planos dele em umas dezenas de minutos. Arrumou o colchonete e os pertences lá dentro, num espaço suficiente para caber até três pessoas, gostava de ter espaço enquanto estava estudando ou executando uma tarefa e, pelo tempo que ficaria, provavelmente encararia algumas chuvas que poderiam confiná-lo ali por horas, então o ideal era estar confortável para continuar fazendo seus estudos e experimentos até mesmo ali dentro. Depois do abrigo pronto, hora de armar uma fogueira que não causasse um incêndio florestal, tampouco o acordasse de madrugada com a tenda em chamas. Uma exploração nas redondezas foi suficiente para reunir galhos secos, folhas secas, gravetos, cascas de troncos e pedaços maiores de madeira, com todo o material organizado da maneira certa e no formato certo não seria difícil fazer fogo. E não foi. Como havia jantado bem no apartamento onde morava o tempo gasto se alimentando na floresta poderia ser aproveitado de outra forma, fazer os primeiros preparativos para a primeira tarefa: Recuperar Tempestas.

Hawkins e End não conversaram mais sobre os acontecidos daquela noite, ele achou que seria inconveniente perguntar sobre onde estava o Dracmório depois de ter sido engolido pela Eternal Beast. Ambos pareciam não ter ânimo algum para cutucar as memórias da luta, ele decidiu fazer por conta própria. Durante o acontecido, temendo perder a Dracena, Endeavour havia deixado junto com ela uma de suas cartas, de maneira que pudesse localizá-la posteriormente de alguma forma quando a poeira baixasse. O problema é que ele não sabia o que de fato aconteceria com ela após ser engolida, tampouco que demoraria tantos meses para executar esse resgate.

Embora tivesse praticado exercícios todos os dias de ressonância e sintonia com as cartas, para ter noção de onde Flamma estava, isso não fora o bastante, pois tudo indicava que ela estava distante tanto em posição espacial quanto dimensional. Buscá-la não seria como procurar uma agulha no palheiro e sim um grão de sal em um deserto de farinha de trigo. O que tornava as coisas mais esperançosas, além do fato de que seus pertences tinham uma runa inscrita, a qual usava para rastreá-las (Não era a primeira vez que ele perdia algo entre dimensões). O local onde ela deixou seu rastro também era importante para trazê-la de volta, por isso iria acampar na clareira em Sarah. Todavia, isso iria demandar um esforço significativo por parte dele.

Keepler tirou alguns sacos da mochila, um caderno de notas, uma pá e uma espécie de varinha tribal. Procurando um lugar à parte naquele vão da floresta, o mesmo começou  a raspar a ponta do objeto mágico no chão, fazendo primeiro um esboço de um imenso círculo de magia, com outros menores dentro e repleto símbolos. Todo o desenho devia ter pelo menos uns 10 metros de diâmetro, e não podia ser torto e nem ter falhas. Para formular aquele ritual escrito o mago demorou meses, estudando e juntando peças exatas de seus conhecimentos adquiridos em suas aventuras pelo cosmo para formular o melhor selo que podia, nomeando-o de The Calling. Após de horas definindo as linhas e inscrições, era hora de usar a pá para “ferir” a terra e deixar o desenho mais fundo, de forma que fosse mais complicado de perder sua forma. Quem diria que o passatempo de cuidar dos jardins da mansão Villenueve lhe seriam tão úteis agora? Se algum helicóptero ou drone passasse por ali, certamente seria capaz de ver os traços do alto, infelizmente não tinha como ser delicado ou discreto, o ritual que pretendia fazer era realmente grande diante do obstáculo da distância entre o mago e a Dracena.

Levou metade da noite para concluir essa etapa, parando só algumas vezes para beber água e garantir que estava tudo devidamente alinhado. Diferente do habitual, seu péssimo costume de desaparecer, Endeavour dessa vez tinha ligado para a casa dos Yagami antes de deixar o apartamento, avisando que ia ficar um tempo bem ausente da casa deles, pois ocupou-se de um trabalho pessoal que exigia sua atenção com certa urgência, mas que não deixaria de dar notícias e que estava bem. Embora Dean sempre parecesse estar com uma pulga atrás da orelha quando o moreno dizia que ia sumir um pouquinho, o risco dele retomar atitudes suicidas ou comportamento depressivo havia sido totalmente extinto, e talvez fosse por saber disso que não se fazia mais vista grossa com o rapaz.

Símbolo feito, era hora de preenchê-lo com o conteúdo das sacolas de couro: Stardust. A poeira possuía um aspecto multicor quando raios de luzes incidiam sobre si, como se fossem um arco-íris granulado, o material não só era o mais próximo do ideal para o tipo de ritual, como tinha uma estabilidade energética suficiente para aguentar o “tranco”. Mais algumas horas foram perdidas, tentando uniformizar a superfície novamente, com o novo elemento em contraste com o solo local. Keep já sentia que não seria simples ficar despercebido por tanto tempo ali, fossem por pessoas normais ou por quaisquer outros seres que habitassem Southtown. Caminhou lentamente para o centro do círculo de magia, levando a mão esquerda para dentro da jaqueta, onde pegou o deck das cartas de Naipes, sussurrando algo enquanto elas adquiriram um brilho azulado e começaram a mudar de forma, fazendo-o juntar as mãos para comportar o que viria a seguir.

Um livro semelhante a um códex medieval quase do tamanho da caixa torácica do homem surgiu na palma das mãos. A capa era uma placa metálica de cor branca, um círculo no meio dividido em 4 pedaços, cada um com um símbolo das famílias de Naipes: Diamonds e Scarletheart alternando entre o vermelho e a cor dourada; Trevor e Spades alternando entre as cores preto e prata. End apoiou o livro em um único braço e com a outra mão moveu os dedos em um dedilhar suave no ar e o objeto se abriu. Todas as folhas subsequentes tinham o aspecto de serem de metal, pesadas e bem polidas, cheias de inscrições em alto relevo, runas e círculos mágicos. O que era aquilo? Era o baralho de Keepler em seu estado original, contendo cada magia que ele conhecia e era capaz de executar, tudo devidamente detalhado de maneira minuciosa, as quais foram feitas por ele mesmo. Seu baralho era o seu grimório pessoal. A diferença entre as formas era seu potencial e as condições de uso: O Deck era uma versão ”Slim” ou portátil de suas magias, visto que esse estado servia para uso rápido ou emergencial das magias, ao passo que eram instantâneas também eram “limitadas” do que a versão definitiva. Caso fosse utilizada a forma original, End teria de recitar todo o ritual, não podendo usar várias de uma única vez e ainda gastando um tempo considerável para concluir a invocação. Em contrapartida, a capacidade adquirida era total e, visivelmente muito mais poderosa.

Escolheu a página que correspondia a carta de Ás of Trevor e deixou o livro flutuar no ar, começando a se preparar para o início da tarefa. Havia um squeeze térmico de metal preso na cintura, com capacidade para uns 500ml, abriu a mesma e derramou na boca um líquido azul um pouco menos consistente que mel, mas com o mesmo aspecto cristalino.  As íris de End pareciam dois faróis de neon tão fortes que pareciam beirar um colapso. Deixando o recipiente cair no chão, o mago firmou os pés no solo e pôs a mão sobre a página escolhida anteriormente, começando a recitar o poder em questão. Com a idealização pronta na mente, a magia se fez acontecer de maneira tão concreta quanto o proferir das palavras: O cenário permaneceria com o original, onde não haveria o desenho e nem o acampamento de Keepler aos olhos de terceiros, mas ele também criou uma barreira por toda floresta para ocultar seu uso de energia e também ludibriar curiosos e transeuntes a se afastarem do local ao pisarem nas margens daquele domínio, como uma espécie de repelente.

O segundo passo foi colocar o livro no centro do desenho feito, pois o objeto seria o “cão-farejador” e imã de atração para a carta perdida. Aqueles círculos serviam para amplificar a capacidade de busca, e o núcleo quanto mais ligações e sintonia tivesse com o alvo, melhores seriam os resultados. Pelo menos acreditava nisso. Com a cobertura já ativa, a primeira etapa já estava quase concluída… Quase.

Keepler esticou ambos braços para os extremos de seus lados e começou a recitar a invocação para o ritual de busca: As linhas de Stardust no chão começaram a piscar e pouco a pouco ganhar um brilho estável, todos os símbolos e anéis desenhados viraram uma espécie de projeção holográfica saindo do chão em várias camadas distintas, como se fosse um mecanismo de alta tecnologia, como vários e vários relógios e bússolas e mapas. Tinha vida própria, com aspectos de linhas e faíscas de energia, esferas, auras e diversos outros formatos fenômenos luminosos girando e se recombinando mais rápido a cada segundo, demorando pelo menos uns 5 minutos para que fosse totalmente ativada, com o mago e o livro no centro mantendo a estabilidade da técnica. (IMG1)

A cor dos olhos de End piscaram entre o azul, cinza e lilás assim que concluiu a magia, fazendo com que o corpo do mesmo cambaleasse para o lado devido a uma fraqueza repentina. Por sorte o poder já havia sido concluído e isso não iria causar nenhum efeito de interferência.

[Keepler]: Ow!… Droga! -

Levando os dedos a cabeleira, agora enegrecida, o rapaz recuperou-se depressa o suficiente para não cair no chão. Algumas gotas de suor ja haviam descido pelo seu rosto em um filete sinuoso, assim como sua camisa por dentro estava ensopada. Balançou a cabeça para ter certeza de que estava bem, e em seguida foi em direção a cabana. A conjuração iria funcionar sozinha enquanto ele pudesse fazer a manutenção energética dela ou até encontrar o objeto perdido. Não tinha como acelerar o processo, o trabalho seria apenas de vigília constante. Enquanto isso, uma tarefa secundária e, não menos importante o aguardava.


Após vários dias de espera

Os estudos na área da pociologia tinham avançado de maneira lenta no período de exílio, deixando o homem muito mal humorado. Ao lado da fogueira havia uma mesinha de madeira com algumas ampolas, ervas, frascos de vidro com algumas substâncias coloridas, em sua maioria em tom azul. A cada 12h o ritual de busca precisava ser “re-energizado”, então Keepler estava utilizando de poções de recuperação de Mana para dar conta de tamanho esforço. Todavia a utilização desse recurso estava longe de ser apenas um método de suporte. Abrir um portal nunca tinha sido uma tarefa complicada para End, como visto anteriormente, ele poderia abrir dezenas e dezenas de portais em um único dia até que sua fonte chegasse perto de acabar. Isso mudou drasticamente de um jeito muito agressivo, entretanto é impossível parar um Diamond quando ele põe algo na cabeça, pelo menos sempre foi assim. Esse obstáculo não bastaria para impedí-lo de fazer suas coisas, isso inclui lutar também. Sua pesquisa de poções, todavia, tinha como foco desenvolver apenas substância com consistência suficiente para que ele pudesse dar conta do trabalho atual, praticou várias misturas e composições ao passar dos dias, o problema possivelmente não estava no método e sim na disposição de recursos e nos equipamentos utilizados para tal: Ainda era muito arcaico e medievo.

Sentado num banquinho de madeira e com os pés apoiados na mesa de misturas, Keepler encontava-se sem camisa, bem sujo e maltrapilho, usando apenas as calças e as botas. O caderninho em sua mão parecia tão surrado quanto um mendigo veterano, ao passo que ele soltava baforadas do seu cachimbo em meio a revisão das anotações de seu experimento. Em um comportamento ansioso, ele piscava várias vezes os olhos e mirava a imensa esfera de runas e anéis girando a alguns metros de sua posição, o “maquinário mágico” não havia parado um instante sequer de trabalhar, e ele não conseguia imaginar o quão distante o raio dela de pesquisa dela já havia alcançado. A carta perdida iria emitir um sinal como radar e esse ritual faria o mesmo, ambas em posicionamentos distintos tentando se encontrar e, na hora que os pulsos se encontrassem ele seria capaz de abrir um portal para puxar a carta e Tempestas de volta. A demora e o pouco sucesso com o tônico estavam deixando-o irritadiço.

De repente, como se estivesse dentro dos sinos da Philanthropy Belfry, uma badalada audível e poderosa ecoou na clareira, arrastando poeira de maneira semelhante a de um helicóptero ligando os motores. Era algo em torno das 18:32 da tarde, como o alaranjado do sol sendo quase totalmente derrotado pelo anoitecer, a fogueira acesa a poucos instantes por muito pouco não foi extinta e a barraca sofreu bastante. Os hologramas se retraíram voltando ao chão, enquanto que os círculos mágicos do solo mudavam de cor em um intervalo regular, igual a um alarme de incêndio, fazendo com que qualquer fonte de luz em volta se tornasse insignificante diante da claridade que emanava, causando a impressão de que tudo em volta estava tomado por uma escuridão.

A carta tinha sido encontrada.

Isso significava que Endeavour teria pouco tempo para executar a invocação de um portal e mantê-lo aberto para que sua companheira fizesse a travessia antes do enorme selo se desfazer, já que seu propósito já havia sido concluído. O homem praticamente voou do banco em uma corrida desesperada, tendo tempo apenas de pegar uma espécie de “coldre” que estava pendurado em frente ao acampamento com três garrafas com tônico de mana. Saltando entre os desenhos no chão, o mago derrapou com as botas até parar de frente ao grimório posicionado no solo a sua frente, deveria abrir o portal exatamente em cima dele para que tudo desse certo, o problema rodeava a seguinte questão: Ele aguentaria abrir o portal? A adrenalina o fazia sentir o coração na boca, não tinha tempo pra escolher o melhor método, apenas executar, e assim o faria. Virou meio litro de poção em duas goladas, deixando parte do líquido escapar pelo canto da boca pela afobação, enquanto a energia envolvia o corpo dele com uma aura azulada. Keepler estendeu as mãos a frente e começou a tentativa: Linhas começaram a surgir no ar, como traços mal feitos de uma caneta em um papel, formando uma imagem de uma porta oval cada vez mais concreta.  A ventania aumentou, a copa das árvores começaram a balançar mais agitadamente, poderia ate se dizer que uma tempestade particular se formava naquele espaço, pois o rapaz teve impressão de ter visto relâmpagos.  O túnel lutava para se formar e o mago para mantê-lo aberto, ele estava abrindo caminho até onde estaria seu alvo, só daria certo quando ele visse a outra “saida” daquela passagem. Os braços tremiam junto com a cabeleira sendo agitada, ainda faltava muito?  Em meio a tensão corporal, visto que o esforço podia ser explicado da seguinte maneira: Seu corpo estava sendo tão tensionado quanto um elástico sendo puxado ao máximo. Teria dado certo se ele não tivesse sentindo aquela energia extra que tinha ingerido se exaurir mais rápido que o previsto.


[Keepler]: QUE M…!

Assim que o as iris se tornaram lilases, o esboço de portal se fechou de uma vez, lançando um disparo de energia como coice tão forte contra End que o mesmo foi catapultado para trás, rolando no chão e nas folhas do gramado do bosque. Tinha tomado uma mistura velha ou fraca? Nem dava para questionar isso agora, em um movimento de desespero viu-se de pé novamente correndo para frente do livro, virando a segunda garrafa de mana e a jogando na puta que pariu, pegando umas luvas com imagens únicas no bolso da roupa e calçando as mãos depressa.

[Keepler]: Porcaria! Vai ser do jeito antigo!

Novamente sobrecarregado de energia, correntes elétricas azuladas percorreram os musculos e a pele do mago, enquanto ele enfiava os dedos no que parecia ser uma porta dupla invisivel, como a de elevadores, e fazendo uma força indescritível para abrir novamente a passagem dimensional. O diâmetro da abertura que conseguiu “rasgar” era menor que o de uma bola de futebol, mas ele precisava esticá-la pelo menos até o seu tamanho para que ela fosse segura o suficiente para a travessia de Tempestas, ao mesmo tempo ele tinha que se segurar para não ser jogado para trás, assim como não poderia vacilar para não cair para dentro e ser lançado para um lugar desconhecido. Quando o rasgo dimensional ja tinha o tamanho do busto, Keepler apoiou os pés na parte de baixo, similar a uma borda, e tentou esticar ainda mais a abertura com a força dos membros inferiores. No momento em que ele conseguisse um desenho uniforme, o portal se estabilizar, mas havia uma força poderosa em oposição ao que ele fazia, uma força da própria natureza em se negar a abrir-se daquela maneira.


Se falhasse, só teria mais uma garrafa pra repor as energias do corpo e tentar novamente, o tempo não estava a favor dele, tampouco a exaustão física. Foi quando ouviu um estalo metálico: O recipiente preso no cinto tinha sido jogado para trás pela ventania e se espatifou no tronco de uma árvore a muitos metros de distância. Não havia mais uma chance, essa era a última. Era como receber um balde de água fria por todo o corpo, mas que isso lhe causava instantaneamente uma febre de fúria e adrenalina, o empurrando a utilizar tudo o que podia para concluir o feito. Keepler passou a sentir dor e urrou contra o desafio, voltando a alcançar rapidamente o limite atual, ele não tinha notado, mas veias negras passaram a aparecer por todo seu corpo, algo a parte a corrente sanguínea, mas com a mesma sistemática, até a parte branca de seus olhos se escureceu, havia tantas ramificações por sua pele, desde pequenas veias até umas saltadas. Seu organismo quase entrava em colapso. enquanto ele forçava o quanto podia as bordas do portal para ele se tornar uniforme, até que uma luz dentro do vão a passagem piscou e todo o som do lugar desapareceu. A explosão silenciosa o fez ser jogado para trás de novo, mas não tanto quanto antes, e como a voracidade de um animal insano, ele se pôs de pé ofegante, pronto para uma arrancada repentina em direção ao livro, mas parou antes disso, olhando para frente incrédulo, olhando aquele enorme círculo dimensional que pulsava como um coração luminoso e vivo (IMG-1).

Como uma besta na neve, a respiração dele estava escapando com uma temperatura muito maior do que o ambiente externo, exalando um vapor dos lábios e das narinas do mago, que encarava parcialmente paralisado o fenômeno. O que precisava fazer agora? Quando encheu os pulmões para chamar a amiga pelo nome, uma sombra emergiu de dentro do portal, o dracmório apareceu intacto flutuando lentamente até parar poucos metros diante do homem à sua frente, afastou um pouco suas folhas e a carta que estava sendo procurada caiu no chão.

[Tempestas]: Já estava acreditando que tinha morrido, moleque. Porque demorou t… - O olho reptiliano na capa do objeto arregalou-se ao encarar as veias negras e a feição estranha de Keepler, olhando de baixo para cima minuciosamente, chegando a flutuar um pouco para trás. - O  que aconteceu aqui?

Endeavour fitou o portal atrás dela e depois para a imagem feita no chão e em poucos segundos a passagem se fechou, engolindo a si mesma no ar, assim como o gigantesco símbolo apagou se desfez em cinzas que foram levadas pelo vento.

[Tempestas]: Eu fiz uma pergunta, Diamond! - Viu a garrafa espatifada na árvore e o líquido azulado que escorria, olhou para a boca dele suja e, como se olhasse de canto, mirou o que havia perto da barraca, mesmo sem ângulo físico para fitar, ela estava vendo.- Seu estado, sabe que essa poção...


[Keepler]: Eu também senti sua falta, velha! Não precisa agradecer!

[Tempestas]: Deve saber bem qual sua…- O tom da dracena era mesclado ao de uma mestra e de uma mãe preocupada e ao mesmo tempo extremamente irritada.

[Keepler]: Eu sei exatamente o que está se passando, não precisa me explicar como se eu fosse uma criança - A iris dele ficou um tempo considerável na cor cinza até retomar o tom lilás, em igual reação, as veias estranhas que haviam surgido pouco a pouco iam se retraindo e desaparecendo, não deixando traços de sua existência. Keep tossiu um pouco, levando a mão esquerda a boca e se apoiando em um dos joelhos, demorando um tempo para se recompor e voltar a ficar de pé. - De qualquer maneira eu não deixaria de tentar te buscar. Desculpe a demora… Isso me atrapalhou muito.

[Tempestas]: Hmm… Podia ter esperado se...- Endeavour a olhou atravessado, e ela entendeu que não deveria mais tratar daquele assunto, não ali.- Quanto tempo se passou?

[Keepler]: ... Uns seis meses... -

[Tempestas]: Onde eu estava não dava para ter noção de tempo, era apenas escuridão. Estava à deriva… Mas não imaginaria que fosse tudo isso...- A dracena flutuou para perto dele lentamente - Então, ganhou ou perdeu? -

[Keepler]: ... Perdi, porventura achou que eu tinha chance? -

[Tempestas]: Imaginei que tivesse perdido mesmo, seu estado é deplorável. Todavia, você se superou, Diamond. Me pergunto por quanto tempo seu corpo ainda vai aguentar esses trancos que você dá nele… E antes que resmungue, acho que dificilmente irei encontrar outra pessoa que tenha tanta sintonia comigo e tenha a mesma aptidão que a sua!

Endeavour estava pronto para interrompê-la até que ouviu as palavras finais da criatura, fechando o semblante para não transparecer o quão tinha ficado sem jeito com o elogio, batendo a mão nas calças sujas de terra, o mesmo caminhou em direção a carta no chão e a encaixou no enorme grimório de Naipes, onde ela tomou a mesma forma das outras e o livro voltou a ser completo outra vez.

[Keepler]: ...Hunf!

[Tempestas]: E obrigado por me trazer de volta, embora eu não sei se teria igual ânimo para fazer o mesmo por você.

[Keepler]: ...Você está tagarela hoje, deveria ter te deixado lá.- As cartas voltaram ao formato de Deck e ele as pos no bolso da calça, caminhando em direção a barraca enquanto o Dracmório vinha atrás, observando em volta. - Eu vou descansar um pouco, estou exausto. Assim que eu acordar vamos voltar para o apartamento. Tenho que fazer uma reforma no espaço do baú, preciso de uma oficina para trabalhar minhas coisas e gastei um bom tempo aqui.

[Tempestas]: Faça o que quiser, não precisa me dar um relatório de seus planos. Apenas me chame quando chegarmos dentro do baú.

Ranzinzas como sempre foram um com o outro, cada um foi para seu canto dentro do abrigo e o mago deixou o corpo cair no colchonete onde apagou por dois dias. Tempestas ficou de vigilia o tempo todo, visto que assim que ele adormeceu, a barreira mágica que havia criado se desfez e o movimento da floresta voltou ao normal.




A dupla levantou acampamento e retornou para a civilização, mas antes Tempestas e Endeavour fizeram uma varredura minuciosa na floresta, queriam garantir que estava tudo em ordem e que não haveria problemas decorrentes da magia feita ali. Dessa vez, foi o Dracmório a fazer todo o trabalho de “reparo” e estabilização de energética, visto que o mago não estava em suas melhores condições. Embora tivessem tido sucesso em Sarah Forest, o que garantia a segurança e integridade daquele espaço? Na verdade o que era a capacidade de duas criaturas diante das regras que regem todo o universo e as demais dimensões? Apesar de terem tido a consciência em tentarem deixar as coisas como deveriam ser, era como jogar mertiolate em uma ferida enquanto o resto do corpo está completamente bichado.

Como assim? A resposta era simples: Keepler.

Imagine um globo de cristal transparente em volta de Second, é um véu que separa essa dimensão de outras. A lei convencional é que não se deveria haver comunicações e passagens entre os planos, e por isso motivo essa “película” existe: para preservar o que há dentro dela e impedir que coisas indesejadas entrem. Embora raro entre os humanos, é convencional que existam criaturas capazes de viajar entre esses espaços, e esse mago é uma das criaturas que consegue fazer isso, mesmo com toda sua pequenez. Entretanto, dentro de seu desespero de voltar para sua casa, a sua Terra, esse homem abriu uma quantidade sem precedentes de portais, de maneira tão insistente e por tanto tempo que seu ato se assemelhou a batidas de um martelo em um prego contra o globo de cristal, de dentro para fora.

Isso danificou o véu, em vários lugares e de várias maneiras distintas. Mesmo funcionando, essa era uma estrutura completamente prejudicada. Antes mesmo da chegada do Diamond, já haviam acontecido outras eventualidades na cidade que agravaram a fraqueza da proteção dimensional, mas os atos de Keepler tinham uma significativa responsabilidade também. Em poucas palavras, a ferida feita em Sarah Forest estava tratada, mas e as outras deixadas para trás e que não tiveram as mesmas medidas protetivas? Endeavour não havia pensado nisso… Provavelmente não iria se lembrar com mesma preocupação porque foi um período em que estava cego pelo desespero. Ele havia prometido a si mesmo que essa seria a unica vez que iria abrir um portal, e  somente fez isso para recuperar Tempestas. E de fato essas eram suas intenções e levaria a finco, todavia todas suas ações do passado tinham e teriam consequências fora de seu controle… E era obrigação do homem dar conta delas.



Mais tarde, na noite do mesmo dia em que retornaram para casa...

Slam Free Field sem dúvida era o melhor lugar para se encontrar o pior. O bairro mais perigoso da cidade tinha desde meros delitos de roubo e furto, até briga de gangues, tiroteios e vez ou outra um assassinato ocorria, geralmente os mortos eram bandidos e vagabundos, nada que levasse a polícia a dar tanta atenção aos casos, visto que só diminuía o trabalho deles de prender e re-prender esses “ratos”. Não havia uma noite de paz naquela região, gritaria, sons de vidro quebrado eram a melodia local.

Porém o lugar não abrigava só a nata da maldade, haviam os pobres e esquecidos também. Desabrigados se amontoavam nos becos e vielas, aproveitando dos vapores vindos dos encanamentos dos esgotos para se esquentar nas noites mais frias, ou fazendo fogueiras nos barris de lixo largados por ai. Um mendigo fuçava os cantos entre dois prédios abandonados, procurando qualquer coisa que pudesse tornar a existência menos penosa, podia ser comida, ou roupas velhas, ou ainda um resto de bebida velha em uma garrafa. O fato é que o maltrapilho estava sozinho, com suas vestes sujas e a barba e cabelo por fazer, resmungando consigo mesmo pelos infortúnios da vida, pior ainda era procurar algo de noite e na escuridão, visto que encontrar um poste funcionando direito no bairro era como achar um trevo de 4 folhas… Ou um completo azar por estar visivel para quem quer que estivesse procurando uma vítima.

Estava debruçado para dentro de um latão de lixo, quando uma claridade repentina surgiu. Seria a policia? Isso era incomum, o velho já estava calejado das abordagens sofridas aos longos dos anos, já tinha uma fala pronta para tratar do problemas.

[Velho]: Senhores, eu só tava procurando umas “coisa” pra eu no lixo. Não fiz nada de errado, né?

Ele virou-se e não foi bem a visão que esperava: Uma Fissura dimensional tinha sido aparecido ali, e assim como uma porta, da mesma maneira que tem algo fora, há algo dentro. O homem apenas cobriu os olhos, pois a luz estava lhe machucando os olhos, e não viu o vulto que saiu dali, tampouco teve tempo para ver aquilo. O tempo que algo atravessou, foi o mesmo tempo que a abertura desapareceu no ar, ao mesmo tempo um grito foi silenciado com um golpe mortal, e no mesmo segundo em que aquele beco foi pintado de vermelho com entranhas, peles e carnes.




Atualmente



Keepler retomou seus projetos dentro do baú, onde criaria uma espécie de novo refúgio onde poderia praticar pociologia, encantamentos, forja, sala de treinos e todas as áreas que conhecia e tinha interesse, um imenso workshop exclusivo para si para ocupar a mente. Esse era o mais novo e principal trabalho do mago no momento, montar o lugar onde retomaria seus estudos e experimentos que tanto gostava de fazer. A mansão Villenueve tinha um canto assim e a Taverna Milktooth também, já havia passado da hora de criar algo assim em sua mais nova e permanente morada.

Novamente, Endeavour havia se enfiado em dias e mais dias de trabalho exaustivo para fazer sua Keepler Caverna, provavelmente era assim que os meninos apelidariam o lugar, ou bastava apenas Toca do tio. O mago gostava de ouvir os moleques, na verdade muita das coisas que fazia ou queria aprender do mundo moderno eram eles quem lhe ajudavam, fosse de maneira séria ou pregando peças nele. Todavia, o homem havia percebido que na casa de Dean havia um domínio feminino, não de maneira negativa… Mas… Bem, as meninas tinham seus assuntos para tratar entre elas. Um batalhão contra 4 marmanjos: Yue, Iori, Setsuna (quando aparecia) e ele próprio (intruso).

Keepler tinha um apego muito grande por Lilith e Yue, e nunca gostava de agir de maneira que parecesse dar mais corda para um que para outro. Porém a menina estava resolvendo algumas pendências pessoais e, diante do “clubinho” feminino na casa dos Yagami, talvez não soasse ruim convidar o garoto para ver seu projeto de esconderijo.

Dentre o turbilhão de coisas que passava em sua cabeça, o mago se ausentou do mundo por muitos dias, se trancafiando dentro do baú mágico em meio ao seu labor, ficando leigo sobre quaisquer acontecimentos na cidade, até que sua barriga roncou e ele lembrou que precisava comer… E dormir também... E tomar um bom banho. Porcaria, porque isso sempre acontecia? Colocando metade do tronco para fora da caixa mágica, End tirou o celular do bolso, segurando-o com uma mão, enquanto a outra apertava as letrinhas, mandando uma mensagem para o sobrinho. Ainda não estava totalmente acostumado com o aparelho, e dentro do espaço dele não pegava sinal, pelo menos não por agora.

”Yue, aqui é o tio Keepler. Bem, eu acho que deve saber que sou eu, aparece na tela, né? Olha só, eu to precisando de uma ajuda sua… Eu acabei esquecendo de comprar comida e algumas coisas para mim, como sabe estou meio atarefado com um projeto.

Se puder, pode passar no mercado e em um restaurante para mim? Vou te dar a lista do que preciso. Vou te pagar pelas compras com juros e aproveitar e te mostrar o que tenho feito nesse tempo. Eu estou no ferro-velho que fica a algumas quadras do meu apartamento, o senhor da portaria vai deixar você entrar, eu falarei com ele que você está vindo. Eu estou dentro de uma Van azul no lado noroeste do pátio, uma bem sujinha e detonada, quando abrir a porta dos fundos do carro vai ver meu baú, basta bater 3 vezes nele e escrever seu primeiro nome na tampa com o dedo e ele vai se abrir, estarei aqui embaixo te aguardando.

Atenciosamente,
Tio End!


De um jeito engraçado, ele só conseguia escrever mensagens como se estivesse fazendo uma carta. Em outro momento, mostraria o lugar para a Lili, só esperava não deixá-la puta da vida por ele ter convidado o irmão dela primeiro .Era hora de descansar um pouco, deixar de ser um maníaco por trabalho e dar a devida importância as pessoas que significavam muito para si… Talvez aproveitar o máximo essa calmaria agora, podia ser que não houvesse paz em um futuro não muito distante, ele não sabia… Não sabia de nada.





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Dimensional Hunt. Empty Re: Dimensional Hunt.

Mensagem  Convidado Seg Abr 29, 2019 1:03 am




Tinha que ser dessa forma, não dava para ser de outro jeito. Por mais que seu interior todo gritasse para que não fizesse o que estava prestes a fazer, o rapaz que olhava os assentos de aparência confortável por trás da vitrine, mantinha a ideia firme na cabeça de que cortar o longo cabelo seria uma boa escolha. Ele repetia várias vezes em sua mente que era um ato necessário e que facilitaria muito a própria vida, se bem que ele estava ali por conta do velho Yagami que vivia o enchendo a paciência por conta do cabelo.


Yue não entendia o porquê de tanta implicância com sua cabeleira longa, o trabalho era dele, quem tinha que cuidar disso também era o garoto, mas no entanto, o ruivo japonês parecia ter alguma aversão, como se o rapaz lembra-se ele d e alguém, o que deixava o jovem confuso e irritado sobre essa situação.


Para evitar que um dia acabasse dizendo algo que viesse a se arrepender futuramente, Yue decidiu tomar essa importante decisão de uma vez por todas e adentrou a barbearia.


Ele via as paredes de tijolo, os espelhos em frente as cadeiras, o chão cheio de tacos, bem atrás dele tinha um balcão com alguns bancos, um minibar para receber a clientela, mesas em frente as cadeiras, mais encostadas na parede para dar uma boa distância as pernas, estas se encontravam cheias de apetrechos e aparelhos que ele nunca viu na vida.


— Boa tarde? — Uma voz calma soou por trás dele, e o rapaz de um metro e noventa e três de altura se virou para olhar quem era a pessoa.


Era um homem jovem, já deveria ter quase os seus trinta anos, o cabelo de tom castanho estava preso em um coque pequeno e mal-ajeitado. O Scion percebeu o grande volume de pelo no rosto dele, formando uma barba longa e estranha, parecendo um triângulo de cabeça para baixo, mesmo quando os pelos faciais se remexeram um pouco assim que um sorriso lhe foi dado, Yue ainda o considerava uma pessoa de feição esquisita.


— Eu... Quero cortar o meu cabelo... — O garoto Yagami disse, em seu típico tom baixo, quase inaudível. Por sorte, como a barbearia estava vazia, ele não tinha que se preocupar em elevar a voz. Yue detestava qualquer momento que tinha de fazer isso. Seu tom de voz era forte, claro e gostoso, porém era grosso e estúpido por natureza, firme até demais para alguém inseguro. Seu timbre sempre soava como um trovão, e por não gostar de ouvir, ele aprendeu a falar baixo, onde sua voz tinha uma entonação mais calma e convidativa.


— Hum, certo, claro. Já tem alguma ideia de corte?


— Eu não sei... Você tem opções?


— Eu tenho algumas.


E o garoto que era mais alto que o homem que o atendera, acompanhou ele para perto de uma das mesas, onde em uma prateleira abaixo, o mesmo pegou uma revista e entregou ao Yagami que a folheou, observando as imagens até escolher uma que o agradasse. Assim que mostrou, a Yue foi indicada uma cadeira que daria um fim a sua aparência. Por mais chato que fosse ver mecha por mecha de sua longa cabeleira castanha ser cortada, ele ouviu dizer várias vezes que mudança nem sempre era algo ruim.


O jovem Yagami franziu o cenho enquanto o homem começava a modelar os seus fios, mas à medida que cada mecha se tornava curta, uma leve levantada ocorria, o que deixava o rapaz incomodado demais. Quando pequeno, seus cabelos viviam em pé, parecia que havia posto o dedinho na tomada mais próxima, e mesmo agora que já estava grande, continuava tendo o mesmo problema, o que levava Yue a ter a longa cabeleira, era menos esquisito para ele, mas agora que finalmente encurtou a sua juba, o mesmo ficou a se olhar no espelho.


Ali estava ele mais novo do que parecia ser. O caçula do clã Yagami era dono de uma pele bem clarinha, pálida em aparência, olhos vermelhos e intensos que escondiam a sua heterocromia abaixo dessa entonação carmesim. O rapaz parecia um jovem de dezesseis a dezessete anos que sofreu um espichamento sem freio até finalmente acabar de crescer de vez. Yue agora tinha cabelos curtos, de pontas rebeldes, levemente armado e com uma madeixa que não queria ficar jogado ao lado e sim na frente de seu rosto.


— O que você acha?


— ...Quanto eu devo?


— Trintinha e agente fecha.


Trinta?! ” O rapaz pensou enquanto se levantava da cadeira e franzia o cenho. Yue sentiu como se estivesse sendo roubado, pagar trinta dólares em um corte que seu cabelo sozinho fazia o resto do trabalho dele era um absurdo, mas já havia sido avisado que a margem do preço seria isso, mesmo assim, a sensação que alguém colocou uma faca em seu peito e saiu rasgando o mesmo era mais que visível. O rapaz tirou a carteira vermelha do bolso da frente de sua calça jeans, e então pegou com muito custo um pedaço do dinheiro que andou guardando a semana inteira para poder ir na loja de quadrinhos.


— Trinta conto para ficar parecido com aqueles japoneses de Boyband. — Ele rosnou baixo, já do lado de fora, andando rapidamente para o ponto de ônibus, já procurando o passe que tinha como estudante e aguardando o veículo.


Apesar de ser de família rica, nem Yue ou suas irmãs tinham de certa forma todas as regalias esperadas vindo de uma casa com boa vida. O garoto não tinha carro próprio, não era levado para cima e para baixo por algum motorista particular, se quer tinha empregada em casa. Os pais os faziam fazer de tudo, especialmente a mãe que não via necessidade alguma deles serem privados disso. Cada um tinha tarefas que deveriam ser feitas em casa, sem mais e nem menos, não podiam nem se revezar entre eles, e aí da molecada se fizesse isso, teriam que se ver com o pai e a mãe, especialmente o pai que tomava a frente de alguma rebelião.


Assim que seu ônibus chegou, Yue deu sinal e adentrou o mesmo, mostrando o passe de estudante e foi se sentar em uma das últimas cadeiras do ônibus, aguardando para o momento que desceria perto de casa. O rapaz achava que ainda havia sido assaltado e de certa forma ele teria sido sim, se tivesse prestado atenção sobre aonde ele havia ido. Quando foi dito que tinha um lugar onde podia cortar o cabelo, disseram a ele para ir a uma barbearia ali perto, mas o velho homem não estava aberto, então, Yue saiu em uma caçada para outro lugar, só que ele não queria entrar em salões cheios de mulheres o encarando. Foi perguntando de um a um na rua que o mesmo conseguiu uma indicação que o mandou longe de casa, mas muito mesmo, e como o mesmo não teve nenhum indicador preciso, acabou indo muito mais longe do que deveria.


Mas esses acontecimentos não incomodavam o jovem Yagami. O mesmo até se sentia em paz quando acontecia. Era o momento mais silencioso que ele tinha na vida. Mesmo que estranhos surgissem por ali e conversassem em seus aparelhos, ou tentassem falar uns com os outros, Yue simplesmente poderia ficar descansado que ninguém iria tentar trocar uma palavra consigo, e ele nem precisaria responder de volta. Era um rapaz de aparência bela, mas tinha um semblante nem um pouco convidativo.


Podia-se dizer que esse era o charme dos Yagami, mas para Yue, tinha um motivo muito mais profundo para ele não gostar muito de aproximações.


Demorou para chegar em casa, o tempo nem parecia querer passar. O rapaz ficou mexendo no celular, lendo algumas mensagens do grupo que seus amigos fizeram e também acompanhava vídeos engraçados e esquisitos que um amigo íntimo, o Samuel, vivia mandando para ele ver. Pode ser estranho imaginar Yue com alguma amizade nova além das que ele deixou no Japão e das quais ele sentia muita falta. Samuel, um rapazote magricelo, que usava óculos de fundo de garrafa e estava sempre com roupas ajeitadas, como um menino da mamãe (assim dizia alguns), se tornou uma figura que o jovem Yagami podia confiar até demais.


Os dois não se encaixavam em nada do que viam, seja no mundinho escolar ou fora dele. Eram introvertidos, gostavam de coisas estranhas, horríveis, gosmentas e nojenta. Partilhavam o mesmo gosto pelo sobrenatural horripilante, e apesar de terem essa similaridade, o que atraiu os dois para amizade foi o rapaz ter descoberto que Yue não era humano.


Isso quando aconteceu foi um acidente. O Scion sempre esperava o vestiário ficar vazio depois da educação física, quando isso acontecia, ele aproveitava para tomar uma chuveirada, porém nesse dia, Yue calculou mal e foi pego de surpresa. Haviam duas coisas no Scion que nunca ficavam visíveis, uma delas nesse dia foi descoberta pelo que viria ser o seu melhor amigo: a sua calda. A mesma era longa e aparentava ser fina. Yue a deixava ficar assim para poder colocar a mesma atrás de uma de suas pernas e prendê-la por meio de três cintas elásticas.


Quando qualquer emoção o atingia com força, a calda se mexia para todos os lados sem previsão de contenção, e ás vezes, apesar de ter acontecido pouquíssimas vezes, ela tinha mania de se abrir, expandindo-se para os lados, revelando escamas escurecidas  e emanava um brilho avermelhado por cada uma delas, como se fossem veias moldadas por um sangue escaldante, cuja as pontas criavam “dentes”. Mas foi notado pelos familiares mais próximo que isso só acontecia quando Yue tinha a ansiedade dele batendo no vermelho.


— Hmmm....


Passo a passo e sem nenhum interesse o Yagami voltava para casa após descer do transporte público. As ruas estavam vazias, não tinha tantas pessoas andando para lá e para cá, ele nem ouvia cochichos como costumava a ouvir, não havia choro de crianças, resmungos de pessoas mal humoradas e reclamações alheias que esses seres pensavam que alguém tinha obrigação de ficar ouvindo como se não tivessem vida própria para cuidar. O rapaz já estava acostumado a tudo isso e achou estranhamente solitário por não ver nada disso enquanto voltava para casa.


Yue parou em frente a um poste de luz, encarando um cartaz nele de mais uma pessoa desaparecida. O jovem ficou inquieto, seu corpo inteiro estremeceu, já era a terceira pessoa que procuravam, e esse cartaz estava espalhado até mesmo onde ele foi cortar o cabelo, no entanto, Yue não conhecia a mulher estampada por ele. Na opinião do Scion era bem bonita, lábios pintados de vermelho, pele escura, olhos pretos assim como os seus cabelos cheios e cacheado, era tão simples em sua ternura, sem aquele excesso ridículo de maquiagem que as mulheres usavam pra ocultar a idade e o que pensavam ser suas imperfeições.


Havia um número ali, Yue repetiu ele algumas vezes para si mesmo e então voltou a andar, estava desejando que encontrassem essas pessoas, já teve casos de moradores que foram mortos nas partes mais perigosas da cidade, o garoto morava na cidade quando isso aconteceu, e até hoje ele não esquecia da imagem da menina estampada no jornal, quando a encontraram largada na lixeira como se fosse um saco de carne estragada, essa mera visão o  faz engolir a seco até hoje, e sempre que se lembrava disso, a mesma pergunta ressurgia: a vida de alguém valia tão pouco assim para ser descartada como se o ser em questão fosse irrelevante?


Ele nunca saberia a resposta para essa pergunta.


O rapaz que estava pronto para deixar aquilo de lado e continuar sua vida, se assustou quando o aparelho celular tocou em seu bolso, o fazendo saltar onde estava e se arrepiar todos, o coração palpitando e os olhos bem arregalados. Apressado ele verificou os bolsos em busca do smartphone.


— Jesus... — Comentou o Yagami, então ele viu que era notificação da sua irmã mais velha, Rose.


A família estava ficando grande, muito maior do que ele se lembrava. Os pais adotaram mais uma pessoa na família, uma android, uma bela moça de olhos zuis, cabelos vermelhos e que estava sempre vestida em duas cores: vermelho e azul, um gosto pessoal e um pouco estranho aos olhos do menino, mas deveria ser por que ela é fashionista, pois a nova integrante da família tinha sua própria loja de grife.


A mensagem tinha os seguintes dizeres:


“Yue irmão! Guardei uns docinhos para você! Não demore muito ou vai perder o almoço!”


E ele apenas a respondeu.


“Eu vou sair um pouco, eu tô dando umas voltas, não vou almoçar, estou sem fome, guarde os docinhos pra mim!”


O rapaz guardou o aparelho de novo e então retomou as suas andanças. Onde iria? O que faria agora? A imagem da mulher no cartaz ficou em sua mente, tinha que tomar cuidado onde andava agora? Rosnou baixo, essas coisas eram tão confusas... Tão complicadas! Por que o mundo não podia andar em linha reta?! Tudo o que ele via e ouvia, o fazia enxergar várias linhas tortas, embaralhadas! Era difícil para Yue lidar com isso, assim como as coisas que sentia por intermédio dessa confusão.


O Yagami parou e ficou olhando a rua que estava prestes a entrar.


— Eu... Juro que... Não, definitivamente não.


Estava estranha, parecia um beco sem fim, como aqueles filmes de terror trash que ele já assistiu com Carol, a sua irmã mais velha. Tinha sempre aquela sensação que nada iria acontecer, mas havia sempre alguma coisa à espreita em qualquer uma das esquinas. Yue é um rapaz cabreiro, duvidava de qualquer coisa que lhe parecesse estranha. O garoto não era como a sua irmã, faltava a ele a mesma confiança que Lilith tinha de cair com a cara e a coragem em cima de tudo que era oferecido a ela. A Siren gostava de um desafio, ele por outro lado, enquanto ficasse quieto e na dele, estava tudo bem.


— Melhor eu entrar em outra aqui por perto...


Deu um passo para trás, acabou por dar mais um até que continuou de costas, com aquela sensação estranha ainda o assolando. O rapaz nem se deu conta que estava de ré e acabou se assustando de vez ao bater em algo. Um som estridente saiu por entre os seus dentes, como se ele fosse um rádio com falha, e se tornou muito mais barulhento quando o Yagami sentiu cutucadas pelas suas costas e a lateral do seu corpo. Yue saiu do chão, um ar frio se apossou de sua espinha e o rapaz acabou a quase um metro a frente do tamanho do salto que deu.


— ARREEEEEEEE!


— Hahahahahahahahaha!


Uma risadinha veio por trás dele, um tilintar de uma sinfonia que lembrava um misto de tristeza e alegria, como um sino que badalava solitário dentro de uma caixinha. O Scion se virou para encarar quem ria, e suas pálpebras se abaixaram um pouco, cortando o seu olhar, transformando a face assustada em aborrecimento quando viu quem era.


Baixinha, de vestido cinza com listras brancas e botinhas pretas, Alice Yagami ria da cara do irmão mais novo. Apesar de ser alto, um traço que herdou da família de sua mãe, Alice era a sua irmã mais velha, uma das inúmeras meias-irmãs que ele tinha, mas que só tinha convivência com essa. Menina de cabelos pretos e olhos verdes grandes, ela tinha seu cabelo preso em uma tiara, e carregava consigo duas sacolas, e pendurada em seu pescoço estava uma câmera fotográfica. Yue logo deduziu que ela saiu para sua inspiração fotográfica e alguém aproveitou e pediu para ela comprar alguma coisa, sempre que os mais novos saiam, dependendo para onde eles fossem, os pais (principalmente a mãe) pedia para comprarem algo que estava em falta.


E pelo jeito que ela estava vestida, tinha dedo de sua mãe nisso.


— Onde tem graça nisso?!


— Calma, calma, foi só uma brincadeira. Estava todo estranho aí, andando de costas.


— Hum... — Ele levou a mão direita ao pescoço, passando ela por ali enquanto franzi o cenho. — Como sabe que era eu?


— Bom, eu fiquei ali vendo do outro lado da rua você andando de costas, pensei em tirar uma foto e guardar no meu álbum com a legenda, mais um doido no mundo, mas aí eu vi sua face e pensei em algo mais divertido!


— Hahaha, sem graça. Não tem nada de divertido aqui.


— O que você tá fazendo por aqui? Errou o ponto de novo?


— Não acho que errei... Não tô tão longe assim.


— Aham, aham, e esse cabelinho? Não acredito que cortou mesmo.


— Pois é, já estou sentindo falta.


— Vai para casa?


— Não, eu acho que vou ver se a venda tá aberta, comprar um sorvete fiado.


— Ué, gastou tudo o que tinha em gibis? — A mesma então notou que ele não carregava nada consigo, e olhou bem para o mais alto.


— Fui roubado depois de cortar o cabelo, gastei quase tudo.


— Hã?


— É uma história que eu não quero contar agora.


— Deve ter sido bem ruim para você ter perdido ele.


— Um pouco.


— Bom, a gente se vê por aí.


— Tá certo.


Yue levantou a mão esquerda e acenou para ela.


O garoto não era muito de demonstrar carinho, vez ou outra ele deixava escapulir algo por sua boca, como dizer a 21 que ele era a deusa da vida dele pelo motivo dela ser a única de suas irmãs que não o incomodava, adentrava no seu quarto, pegava as suas coisas ou roubava o seu cofrinho, o menino havia notado que dez dólares havia desaparecido de lá faz um tempo.


Yue tinha dificuldades em mostrar afeto em relação aos outros, era fechado, muito quieto e recluso. É verdade que ele e Lilith possuem uma ligação intensa, como se os dois tivessem nascido como gêmeos, mas quando se tratava do resto mundo, eram pouquíssimas pessoas que conseguiam derrubar essa muralha que existia dentro dele. As coisas que lhe aconteceram nos últimos anos fizeram com que ele criasse uma desconfiança maior ainda sobre as criaturas a sua volta, e tornasse difícil arrancar alguma expressão dele.


— Bom... Hu... A gente se vê mais tarde. — E com isso ele deixou a imã para trás ao se afastar dela com passos largos, olhando uma vez ou outra por cima do ombro para ver se a menina havia ido, tinha receio dela tentar assustá-lo novamente.


O ar da cidade quente parecia frio e seco, é esquisito para ele como aquela parte da cidade parecia estar sendo coberta por uma neblina invisível, tornando todo o lugar de certa forma desagradável. O Scion passava por pequenas lojas típicas de bairro misturadas a casas pequenas, grandes, aquelas conjuntas onde um vizinho podia ouvir o que o outro falava ou fazia só por abaixar o som da televisão de sua sala. Yue arfou um pouco, algo não estava certo, ninguém estava andando pela calçada, falando alto, discutindo, e o rapaz vagueava muito naquela área para saber o que estava errado.


A atenção de Yue foi fisgada quando em um lugar bem conhecido ele viu a dona parada, olhando para o alto onde ficava uma tv pequena suspensa. O Scion atravessou a rua após chegar os dois lados e ficou quieto em frente á mesma, vendo o que se passava.


“Nessa tarde de Domingo mais um corpo foi achado nas proximidades de Slam Free Field. A região conhecida por sua violência, tornou-se palco de mais uma chacina desenfreada. Um grupo de homens foi visto passando a dois dias abaixo da linha de trem e foram encontrados mortos hoje por um morador local. A cena vista pelas autoridades foi descrita como um caso nunca visto, as vítimas ao que se parece foram esquartejadas, e o local em questão foi pintado como uma capela bizarra e distinta.”


A repórter que dava a notícia estava pálida, parecia ter visto algo tenebroso, os lábios se moviam com força, parecia estar se segurando para não fazer algo a mais além de sua reportagem.  Yue não ficou surpreso com a forma que ela falava, assim como o modo que a notícia que era dada. A cidade tinha mania de ser dura e crua, sem esconder os terrores que a assolam de seus cidadãos, pelo menos era o que parecia ser, pois o Yagami não se lembrava de ser diferente, não tinham nem pudor de esconder o estado de suas vítimas.


— Minha nossa Senhora, eu nem quero ver o que aconteceu ali. — A mulher de quase sessenta anos se virou, dando de cara com Yue.


Jane não se assustou, mas sempre achou estranho o fato do rapaz se esgueirar para a sua humildade lojinha sem que ela o visse. O lugar tinha apenas apetrechos, objetos aleatórios e de casa, mas a dona de cabelos grisalhos e sem cuidado algum adorava ver o noticiário e as suas novelas, e sempre que o rapaz estava, ele dava uma olhada em sua Tv sem nunca levar nada, a não ser um pacote de Mentos.


— Menino o que você faz aqui? Essa sua mania de ficar se esgueirando sem dar sinal de vida, ainda vai te custar a vida!


— Mas eu tô do lado de fora, nem entrei ou fiz algo.


— Mesmo assim! O mundo hoje em dia está muito perigoso! Nessa cidade só tem louco, um pior do que o outro!


— Ah sim, é, as coisas andam ruins.... Por aqui.


— Ninguém está saindo mais filho, um ou outro passa por aqui, as pessoas estão com medo. Não estou vendo nenhum conhecido da vizinhança, ficaram assim depois da menina que sumiu.


— Uma moça? Eu vi a face dela pendurada umas ruas atrás, logo no ponto de ônibus.


— Sim, ela mesma, o pai e a irmã estavam aqui perguntando se podiam deixar alguns deles na minha loja, estão desesperados, a pobrezinha saiu e não voltou mais.


Yue ficou em silêncio, ele abaixou a cabeça pensativo, sua mente voltou para quinta-feira, mais precisamente no momento em que sua professora de química começou a dar conselhos para os alunos não andarem sozinhos, montarem grupos para voltarem a seus lares, e os que podiam chamar os pais ou alguém para lhes dar carona para se aproveitar disso o máximo que podiam.

Dois alunos já haviam sumido no decorrer de um mês e meio e um alerta foi dado, por conta do crescente aviso de mortes e desaparecidos pela cidade.


O Yagami sempre pensou que fosse só naquele canto, até que viu que a coisa era um pouco mais séria, até ele tinha alguém sempre enviando alguma mensagem perguntando o seu paradeiro.


— Entendi... É melhor eu ir andando.


— Vá mesmo! Rua não é lugar de moleque hoje em dia!


Yue não entendeu a frase, mas deu de ombros e tomou seu aparelho mais uma vez em mãos, talvez devesse avisar que estava voltando, só que quando ligou o smartphone havia a mensagem de uma pessoa que há muito ele não via. Era de Keepler Endeavour, o irmão de consideração de sua mãe.


— .... — Ele leu a mensagem mais de uma vez, parecia uma carta endereçada a ele. —Some por semanas e me vem falar para comprar algo... Humph.


Ficou a pensar se deveria fazer o que ele pedia.


No final, depois de minutos divagando e parado em frente a lojinha como se fosse um robô cuja a bateria havia acabado, o Scion voltou a vida e partiu para sua próxima “aventura”.


Keepler não morava perto de sua casa, e apesar de que ir no lugar que ele vivia não fosse um problema, Yue ainda tinha na sua nuca a sensação de estar sendo estritamente vigiado. Várias vezes parou e olhou para trás, para os lados e até mesmo retornou alguns passos. Ele sabia quando tinha alguém o olhando, podia não ter olhos em sua nuca, mas os seus sentidos nunca falharam com ele, desde que se conhecia por gente confiava bastante neles, mesmo que ninguém mais tivesse fé sobre isso.


Yue então gastou o que tinha na sua conta de emergência para fazer o que seu tio de consideração havia pedido, comprou alguns alimentos e passou num restaurante local para pegar uma quentinha, como Keepler sempre devolvia o seu dinheiro, ele não precisava se preocupar em contar uma mentira caso alguém notasse que o fundo de emergência dele estava diminuindo.


O Scion fez o que foi peço assim que chegou no ferro velho, mas realizou os atos com muito custo, pois o cheiro do local e a visão de ratos perambulando não agradaram muito o rapaz. O Yagami tinha uma audição boa, mas melhor que ela só o seu olfato e ele podia dizer claramente que tinha algo podre por ali, só que o mais estranho é que no meio dessa podridão ele pode sentir um cheiro diferente, uma essência metálica que fez sua boca salivar e seu estômago roncar alto.


— Aaaarrgh... — Ele rosnou baixo enquanto escrevia seu nome no baú, mais precisamente onde seu tio havia o instruído a fazer. — Tio? Onde é que você tá? É melhor não ser um truque, eu estou cheio de coisas aqui comigo!


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Dimensional Hunt. Empty Act. II - True Words

Mensagem  Convidado Ter maio 07, 2019 10:56 pm





Yue tinha feito tudo direitinho, de verdade, exatamente como End havia pedido, logo que o garoto protestou sobre o tio estar ali e ajudá-lo com as coisas, a resposta veio segundos depois, uma voz abafada, mas não muito distante, como se o homem estivesse esperando-o do outro lado.

[Keepler]: Uh?! O que? Não funcionou?! Espera…Eu vou subir e abrir! - Ao decorrer da frase, a voz dele já estava mais próxima, assim como o rangir das madeiras denunciava ainda mais sua chegada.

O mago resmungou algo baixo, enquanto lentamente a tampa do baú se abria, revelando os olhos liláses do mago dentro das sombras, pouco a pouco mais visivel com a claridade do mundo exterior.

[Keepler]: Parece que meu método de chave & cadeado mágico não funcio...- Ficou um tempo em silêncio olhando bem para o rosto e ombros do sobrinho, como se procurasse algo de diferente em suas feições, até que em um estalo repentino sorriu - Cortou o cabelo, hein? Ficou bom! Acho que sua mãe também vai achar bonito! - Novamente Endeavour parou de falar, pegando um pedaço de madeira e escorando a tampa do baú na parede da van velha, que rangeu ao bater do objeto de madeira, tendo segurança de que não levaria uma paulada da caixa na cabeça, estendeu as mãos para o sobrinho - Vamos, me dê essas sacolas e entre aqui. Sua coluna vai gritar mais tarde se continuar curvado desse jeito num espaço tão pequeno!

O Baú era bastante antiquado, em seu entalhes e em seu formato. Podia parecer aqueles utilizados por cowboys para guardar as celas e equipamentos de montaria nas fazendas ou ainda parecer um centenário da época das cruzadas. Ele tinha tamanho suficiente para caber duas pessoas adultas encolhidas dentro dele, lado a lado, e ainda sobrar um espaço confortável, seu aspecto estranho, entretanto, se resumia a não ter um fundo “normal”. Sua aparência, toda vida, deixava indicios de que tinha sido montado a pouquissimo tempo. Enquanto a tampa estivesse aberta, ele tinha um imenso breu dentro de si, nem mesmo dava para ver onde Keepler estava com os pés, foi o unico aviso que ele havia dado ao sobrinho “Cuidado onde pisa!” enquanto dava espaço para ele entrar e “seguí-lo”.

A sombra ali dentro tinha um propósito, não permitir que quaisquer pessoas de fora vissem seu interior, então logo que sua entrada se fechou, nenhum dos dois precisariam de recursos extra sensoriais para ver o ambiente. Estavam de pé em uma escada de madeira, recém feita, construída num corredor de blocos de pedra o qual levava para uma segunda escadaria também feita do mesmo material da passagem. Como uma pessoa que estava passeando em um museu temático e mudava de uma sessão de historia moderna para período medieval, fora a transição que ocorreu ali. Abrupta. Pareciam ter entrado em um portal e saído num local completamente diferente, mas não era isso.

Mentalmente Keepler estava feliz de ter feito a altura certa ali dentro, se tivesse usado o próprio tamanho como medida, talvez Yue se sentisse um gato entrando tentando entrar na toca de um rato. Algo curioso, por sinal… As únicas coisas que distinguiam que End era mais velho que ele eram algumas feições e o comportamento  (em determinados momentos), visto que o rapaz era até mesmo mais alto que ele. Ainda assim poderiam confundí-los como “parecidos”. O “Sam e Dean Winchester de 2nd”... Se bem, que parando para pensar, essa comparação encaixava exatamente com a imagem do Mago e a mãe do menino (Até mesmo o nome): Ela era a mais velha e menor e ele o mais novo e alto.

Enquanto desciam, com o anfitrião um pouco mais a frente, o homem sentiu um aperto em seu ombro direito, uma dor incomum e bastante recorrente nos ultimos dias, o fazendo fechar os olhos e soltar um resmungo baixo pelo incômodo repentino. Um aperto que ele tinha plena convicção de que não era físico, como uma queimadura na pele causada por liquido quente: Disforme, latente e torturante… Todavia a sensação lhe apertava o braço como se tentasse lhe esmagar os ossos. Nunca encontrou o motivo exato para aquela sensação, assim como o ruido que lhe invadia a cabeça tão alto quanto um apito, a mesma ideia de garras arranhando uma lousa escolar, mas sendo esse quadro o próprio crânio dele, pois não adiantava tapar os ouvidos, porque se está dentro da mente, silenciar é praticamente impossível. Contudo, ele atribuíu isso, de maneira muito relaxada, a sua má alimentação, ao seu atual condicionamento fisico, e deixou por isso mesmo… Pelo menos até conseguir realizar os planos que tinha em mente, ai sim… No momento em que o sangue em sua caixola esfriasse, ele desse conta de que tinha esse probleminha de saúde a cuidar.

Haviam tochas de falso-fogo nos metros seguintes, iluminando A passagem (só serviam para isso mesmo), apesar de duas pessoas serem capazes de descer os degraus lado a lado, sem se encostarem, a sensação era de um local estreito.A sensação de humidade era verdadeira ou apenas uma ilusão? Talvez fosse apenas um charme colocado pelo moreno ali e aqui para tornar a ambientação mais próxima do real. Depois de poucos instantes de avanço em silêncio, uma porta de madeira maciça enorme ao mesmo estilo medievo estava entreaberta, empurrando-a com a mão tendo como acompanhamento o ranger das dobradiças de ferro, o salão a frente deles foi revelado.

[Keepler]: Bem-vindo a minha nova “casa”! - Exclamou com um sorriso animado para o sobrinho, se dirigindo ao centro do local.

Não sabia se Yue ja tinha visitado um castelo medieval antes, contudo qualquer um teria o mesmo pensamento: estavam na idade das trevas. As paredes de blocos entre o branco e o cinza, bem arrumados e polidos de maneira que pareciam estar perfeitamente alinhados. um espaço amplo dividido por apenas quatro colunas sustentando a abóbada de feita de troncos cortados em formato côncavo. Mas a visão do lado oposto a entrada era de varias janelas com largura e altura superando  em poucos centimetros o tamanho de uma pessoa comum, provavelmente seriam colocados vitrais no esqueleto metálico, mas ainda não dava para saber quais imagens seriam, visto que do outro lado so havia uma brancura estranha como a de uma folha de ofício, a qual acabava servindo como fonte de luz. Ao teto dois enormes candelabros. Em resumo, estavam em um verdadeiro salão comunal medieval.

Keepler tinha um espaço grande o suficiente para caber uns 5 caminhões-cegonha lado a lado, mas não havia quase nenhum movel ali, apenas um grande tronco de árvore cortado na horizontal posicionado à um canto do lado esquerdo, como se End tivesse começado suas engenhocas ali. Alguns armários prontos com poucos livros e papéis, algumas cadeiras, umas poucas mesas, todavia uma mesa com poções e um amontoado de anotações, ampolas e recipientes com materiais químicos era o canto mais caótico e, certamente, mais usado.

A outra abundância ali era a quantidade de madeira empilhada e ferramentas espalhadas pelo lugar, visto que o próprio mago era quem estava construindo os móveis e outras coisas do lugar, no braço. Mas porque não usar a magia para fazer tudo? Embora o espaço fosse sim, fruto de uma artimanha mística, Keepler ainda considerava que a magia era uma ferramenta que podia ser muito bem usada, mas não usada para tudo e o tempo todo, e ele próprio gostava de fazer trabalhos artesanais e braçais quando tinha oportunidade. Em uma das paredes de pedra uma enorme lareira rudimentar estava acesa, mais alimentada pelo pó de madeira que pairava por todo lugar do que por lenha propriamente dita.  A verdade é que essa era uma das funções daquele escape, dar fim no amontoado de residuos dos trabalhos de carpintaria do mago, sendo jogados para algum canto da tela branca do lado de “fora” do edifício.

Keepler caminhou para a mesa, que era apenas um enorme tronco de árvore recém cortado, o qual provavelmente ele iria moldar e fazer algo mais bonito para ornamentar o ambiente. Afastou uma série de cadernos, papéis, tabuletas de desenho e cartolinas imensas, onde havia os planejamentos dos móveis e outras coisas que estava projetando para construir e por ali dentro.

[Keepler]: Acabei me pegado ao trabalho… O trabalho de construir esse lugar. O que acha? “Keep Caverna?” - Fazia esses trocadilhos bizarros de propósito, pois sabia que os meninos agonizavam com isso. Apoiando as compras na peça, a primeira coisa que pegou foram as notas fiscais, que geralmente os atendentes jogavam dentro dos sacos, avaliando o prejuízo que tinha causado ao sobrinho.- Vejamos… Bem… Acho que… É… Onde está minha carteira? - Jogou alguns papéis para fora da mesa, demorou um tempinho até encontrar o objeto e tirou a quantia gasta pelo menino, e até um valor um pouco a mais (20 reais) para compensá-lo pelo favor feito. Entregou o dinheiro nas mãos do garoto.

[Keepler]: Agora sabe o motivo pelo qual eu estava ausente… Acabei me pegado ao trabalho… O trabalho de construir esse lugar. - Voltando mexer na bagunça instalada ali, pegando uns papeis cheios de esquemas e rabiscos, arrumando próximo ao campo de visão de Yue, na verdade era uma “provocação”. Sabia que o menino tinha apreço por desenhos e coisas do tipo e o próprio End era quem estava projetando e criando tudo ali dentro, queria saber se isso despertaria a curiosidade do sobrinho, enquanto mantinha uma fala despretensiosa - Eu me mudei definitivamente para cá… E aproveitando o embalo… Eu notei  que há a supremacia feminina na residência dos Yagamis. Não é de todo ruim, mas já percebi alguns “contratempos” que acontecem entre vocês, então pode usar meu espaço para fazer suas coisas também, como uma oficina ou refúgio… Mesmo que eu não esteja aqui dentro, tem permissão prévia para entrar e mexer nas coisas...- Levantou o indicador da mão esquerda - Mas não todas as coisas! Alguns pertences meus ainda devem permanecer restritos, não porque não confie em vocês… E sim porque eles podem facilmente causar grandes problemas… -

Na lista de compras que pediu, tinha duas quentinhas, talvez o sobrinho pensasse que ele estava com fome demais e por isso pediu aquela quantidade, quando na verdade End tinha pego uma pra si e outra pro menino, fazia tempos que não comia na casa dele, a última vez fora uma rápida aparição no aniversário do Yue - mesmo adoecido.

Moveu duas cadeiras e pôs elas próximas do tronco de árvore que serviria como mesa, sentando-se com um dos pés no assento e a outra perna esticada, vestindo apenas uma calça de moletom e uma camisa de manga curta azul, comendo com gosto a refeição que ainda estava bem quente. A lareira do outro lado estalava e fazia as sombras dançarem com o movimento das chamas dentro dela, enquanto a dupla ficava ali. Talvez nesse tempo ficasse visível ao menino que Keep havia mudado, de um jeito positivo. Seu semblante e sua aura não pareciam mais de alguém entristecido, como se uma escultura de vidro esquecida na poeira tivesse sido polida e estivesse com seu brilho de volta. Passaram os primeiros minutos em silêncio, respeitando o espaço o momento de ceia, mas End ao chegar perto do fim da refeição, se ajeitou na cadeira tomando um semblante sério, embora não houvesse um clima ruim em sua expressão, parecia mais… Sereno.

O Diamond, mesmo próximo dos Yagami ainda era um mistério para a maioria. Nunca havia chegado a contar sua história aos meninos, toda a sua história, tampouco havia aberto seu coração para eles para explicar direito o que o deixava tão depressivo nos meses passados. Sabia dar respostas evasivas ou ainda superficiais na medida certa, sem responder tudo e nem sem responder algo, nem mesmo sua origem e o motivo o qual estava em 2nd era muito bem sabido, só tinham noção de que ele era um estrangeiro de outro lugar do mundo, e era um mago. Todavia, mesmo com a matriarca da família tendo noção de tudo o que ele havia passado e estava passando, ele ainda sentia o dever de se explicar aos meninos. Mesmo que ainda fossem crianças em muitos pontos, End compartilhava de uma confiança e carinho para com eles que poderia se igualar e até superar o sentimento que tinha com seus companheiros de Naipes, falecidos a tantos anos.

[Keepler]: Yue… Eu te devo um pedido de desculpas e uma explicação… A ideia era fazer isso com você e a Lili juntos, mas acho que temos privacidade e tranquilidade para falar disso. - Disse pondo a quentinha de isopor na mesa, levantando indo para um canto onde havia as malas dele e outras sacolas perto da cama, mexendo em algumas coisas até vir com um objeto oval embrulhado numa seda rendada preta muito delicada.- Embora vocês gostem de me zoar de encalhado… Não é a verdade... - Entregou o embrulho nas mãos do menino, sentando na cadeira logo em seguida soltando um suspiro e se recostando enquanto organizava as ideias, havia dado a ele   a fotografia de Mabelle, uma mulher tão palida quanto marmore, de longos cabelos negros, mas de olhos dotados de duas esmeraldas intensas e bem vivas.

[Keepler]: Essa é Mabelle Villenueve Diamond, minha esposa... Bem, não casamos no civil, mas esse é o nome que ela carrega consigo - O rapaz ficou com as bochechas avermelhadas e um sorriso bobo brotou no canto dos seus lábios, enquanto desviava o olhar para o teto por breves instantes, até que o peso da realidade caiu sobre si e ele retomou a postura. - Nós temos mais de 500 anos de casamento, é mais que a vida de todos os integrantes de sua família somados, excluindo a D. da conta. Mais tempo até mesmo que a união de seus pais… Mais tempo do que eu mesmo tive de vida solitária. - Estava tendo um trabalho em esconder certos sentimentos que rodopiavam em sua cabeça e em seu peito, pois ao mesmo tempo que falava, mil lembranças vinham a mente, e ele ainda precisava atentar-se as palavras que diria ao menino. Um deslize na escolha da frase para explicar o que ele vinha passando poderia ser muito mal interpretado e, ao invés de aproximá-los, poderia afastá-los. Tossiu um pouco, pegando uma garrafinha de chá gelado no saco e bebendo alguns goles até retomar a fala

[Keepler]: Eu fiz uma viagem entre dimensões, eu sempre fiz isso durante toda minha vida, antes mesmo de conhecê-la. Expedições. Eu sou uma pessoa muito curiosa e inquieta, como deve saber… Não consigo ficar muito tempo parado ou ocioso e, essas aventuras mantinham minha mente ocupada, as vezes viajávamos juntos, mas nem sempre ela podia devido às obrigações que tinha com sua “família”... Bem, ela era uma vampira e tinha que seguir uma série de dogmas de seu clã, inclusive não era muito adepta a mudança, mas sempre fez esforços por mim… - As feições do mago se endureceram um pouco, ainda olhando para o sobrinho com atenção.- Todavia, eu sofri um acidente quando estava voltando para casa dessa viagem em questão, voltando para Mab. Eu não lembro direito, eu estava no túnel do portal que me levaria de volta e…. Tudo escureceu. Acordei aqui em 2nd muito machucado e, depois de um tempo descobri que não tinha mais a capacidade de abrir portais de volta para casa - Keepler fechou os olhos e inclinou a cadeira para trás fazendo uma espécie de balanço. - Antes de conhecer sua mãe eu passei meses no mais puro desespero de voltar para minha mulher Yue. Pois ela não sabe o que aconteceu comigo, nenhum de nossos metodos de segurança nessa situação funcionaram, é como se minha ligação com a terra em que eu vivia tivesse sido apagado. Eu prometi a ela que voltaria, eu sempre voltei e Diamonds sempre cumpriram suas palavras. Mas isso me adoeceu muito, garoto… Eu estava realmente depressivo e amargurado. Porque isso só aconteceu por meu capricho, em achar que nunca poderia dar errado? Imagine, fiz centenas de viagens com sucesso, meu orgulho de viajante veterano me fez ser irresponsável e negligente. - A voz aumentou um pouco, em um tom de sarcasmo consigo próprio,  chegando a levantar da cadeira e se recostar na mesa com os braços cruzados, mostrando sua inquietação sobre o assunto.

[Keepler]: Mas parece que o destino não estava só me sacaneando. Eu ganhei uma amiga… Ou melhor, uma irmã muito querida que me ajudou nesse momento de dor, assim como ganhei dois sobrinhos encapetados, mas que eu seria capaz de ir contra o universo inteiro para vê-los bem. Ganhei uma família, ou melhor, fui adotado pela sua família de um jeito estranho, mas verdadeiramente especial. Infelizmente… Eu… -  Pensou bem nas palavras seguintes - Eu nunca poderia apresentar a vocês minha esposa… Tampouco trazê-la para cá para ficar junto conosco, assim como não sei como ela está lá. E não há nada que possa reverter isso, e eu estava custando a aceitar essa condição, muito magoado e pensava que era injusto. Porque não poderia estar com a mulher que vivi toda minha vida ao lado junto com minha irmã postiça e meus sobrinhos?... Talvez eu estivesse pedindo demais, ou não… - Apoiou a garrafa vazia na mesa, voltando a se sentar.

[Keepler]: Contudo, isso não justifica minha ação de ter ficado distante de vocês, mesmo que um pouco. Não foi a melhor decisão e, eu sei que falhei com vocês nisso. Eu, ainda como um mago, sou humano também. Não consigo acertar todas… Fui mesquinho e covarde, vocês nunca mereciam me ver triste ou tão apático. Porque, sinceramente, vocês são o motivo de eu me sentir feliz hoje, me sentir bem… Ver um belo horizonte à frente. São a razão a qual me faz querer estar aqui e não pensar mais em sair, de acordar todos os dias e seguir em frente. Eu queria poder ir atrás de minha esposa? Sem dúvida! Mas não pense que seria com o intuito de ir embora ou deixá-los. Jamais! Eu nunca arriscaria ir buscá-la para vir ficar conosco se eu não tivesse a plena certeza de que seria capaz de voltar. Não… Vocês são meus meninos e não haverá nada que importe mais pra mim do que vocês.  - End só era bobo porque queria, quando queria para tirar risos ou gargalhadas dos moleques, ou ainda fazê-los pirar de raiva; mas essa era apenas uma das facetas dele, a de agora era a de um homem que buscava seu melhor para ser o melhor que os pequenos merecem.

[Keepler]: Se bem… Que meus últimos sumiços não foram por tristeza, como pode ver, eu estou ativo e enérgico novamente. Vocês ainda não viram bem esse meu lado, mas eu facilmente mergulho de cabeça nos meus experimentos e trabalhos, e eu não vejo o tempo passar até sentir fadiga e fome. Bem, pelo menos agora sabe o que eu tenho feito e onde estou. Não sumi por mal, apenas não percebi que o tempo passou… Por sinal, que qual o dia e data de hoje?  - Questionou pegando o celular que havia ganho, mas este acabara de descarregar.

[Keepler]: Não sei o que a D explicou para vocês sobre minha situação, mas gostaria que aceitasse meu pedido de desculpas. Da mesma forma que, antes de saber sobre as novidades do mundo lá fora, eu irei ouví-lo também, se quiser falar algo sobre isso. Se não quiser tocar no assunto, também vou entender. De toda forma, você e Lilith não são apenas meus sobrinhos, são meus melhores amigos também, e por isso eu precisavam ouvir de mim isso.  - Curvou-se para o menino numa reverência muito antiquada e incomum o qual os cavaleiros geralmente faziam para uma pessoa importante e de respeito, até que se reergueu esperando a resposta de Yue: se ele falaria algo acerca do que havia discursado ou sobre as novidades em 2nd.

Em volta deles havia um cheiro adocicado no ar (vindo da mesa de alquimia), misturado ao odor de madeira recém-cortada e o da quentinha que tinham aberto. Mesmo algo repentino e ainda em construção, Keepler sentia a semente da concepção de lar crescer naquele espaço, apresentar sua nova casa, seu recomeço ao sobrinho se tornou um gesto, ainda que simples, bem renovador e inspirador para si. O mago se sentia um pouco mais leve agora… Esperava ter tomado a melhor atitude naquele instante, contudo não poderia fazer menos que aquilo.





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Dimensional Hunt. Empty Re: Dimensional Hunt.

Mensagem  Convidado Qua maio 15, 2019 10:33 pm


 029.The Ruler of Blood.




A única coisa que havia na frente de Yue era um baú, e ele não estava a fim de brincadeiras, queria se livrar logo de todas essas sacolas que trouxera consigo, algumas alças desceram tanto que comprimiam os seus dedos, o incomodando muito nesse momento. O rapaz pensou em largá-las no chão, mas tinha a certeza que se as descer, assim que levantar elas, algumas iram se romper. Como não queria correr o risco de ter que sair correndo atrás de nenhum produto comprado, ele ficou quieto olhando o baú, aguardando pelo aparecimento do mais velho.


E Keepler não tardou a aparecer a sua frente, vindo exatamente de dentro daquele objeto que fez Yue recuar assim que viu a tampa subir. O garoto andava mais que desconfiado, seus sentidos, os seus sensos estavam ficando perturbados e depois da brincadeira de Alice isso não seria nada fácil de se esquecer. O Scion fitou seu tio e então franziu o cenho em uma expressão irritadiça pelo comentário sobre o seu novo cabelo.


— Nem me fale disso. — E com um certo ranço na voz, ele entregou a Endeavour algumas sacolas, adentrando o baú ainda com uma pulga atrás da orelha, e mesmo não querendo muito, seguiu o tio por aquele lugar esquisito.


O Yagami franziu o cenho observando onde estava, Yue nunca viu algo parecido e sentiu-se estranhamente bem à medida que se aproximava mais do cenário novo. O cheiro ali era gostoso, tinha um ar de toca que foi bem aceitado por ele, e o estranho é que o Scion estava sentindo-se de certa forma seguro enquanto subia as escadas para a nova “casa” do seu tio.


— Que lugar é esse...? — Perguntou para si mesmo em uma voz inaudível, enquanto colocava as sacolas que ficaram consigo em cima da mesa junto as outras. — .... — O garoto esperou End caçar a sua carteira e assim que foi pago, ele removeu a própria do bolso da calça, guardando separadamente o dinheiro que tinha que ir para o seu banco e o outro que iria juntar com o restante que seria para os seus quadrinhos, agora ele podia comprar a nova edição do Homem-Aranha e continuar sua busca pelo próximo Cavaleiro das Trevas.


Podia ser estranho que um rapaz desse tamanho, de poucas palavras e olhar mal-encarado, gostasse de coisas assim. Por mais que a vida lhe tenha mudado e muito nos últimos anos, ainda havia coisas que ele não desapegava, como seus bonecos, os quadrinhos e os inúmeros desenhos que ele fazia, um passatempo que fazia muito bem para ele.


O caçula do clã Yagami notou as coisas que o tio arrumava e alguns foram fixados por ele, que se aproximou mais do tronco de árvore e foi futricando aqueles desenhos como uma criança curiosa, dando atenção a cada detalhe desenhado, ele mal notou o tio trazendo as cadeiras para perto deles, mas sentiu o cheiro da comida que havia comprado para ele. O Scion deixou os desenhos para depois e se sentou à mesa.


— Tá bom. — Foi a única coisa que ele respondeu a fala do tio, e quando este dividiu as quentinhas, sendo uma para o garoto que nem desconfiava que acompanharia o tio, ele se pôs a comer com End, o que tornava o clima um pouco mais quieto do que ele já aparentava ser dentro daquele local.


Yue não era a típica criatura que falaria com alguém a todo momento, o garoto era mais do tipo de ouvir o que as pessoas tinham a dizer, mesmo que ele não entendesse nada do que os mesmos falassem para ele. O Scion encerrou sua comida, empurrou com cuidado o isopor para frente, afastando ele um pouquinho de si e estava prestes a se levantar quando o Endeavour começou a falar, trazendo para ele algo para ser visto.


Ao tomar o objeto em mãos, Yue removeu a cobertura e quando as pontas de seus dedos encostaram sobre a moldura, o Scion ficou inquieto. Um mutirão de emoções o dominou neste instante, e a maioria desses sentimentos o garoto não compreendia o que era, tanto que a aproximou a mesa, e soltou-a devagar para não a quebrar. O garoto arfou baixinho, podendo-se ver apenas seus lábios se abrindo e fechando. Uma sensação de angustia ficou sobre o seu corpo, mas ele voltou a olhar a imagem da mulher que lembrava estranhamente a sua mãe. Apesar de não serem idênticas, eram muito parecidas para a surpresa do garoto Yagami.


— Nossa... — Ele deixou escapar.


Dali em diante, Yue só ficou ouvindo o que o mais velho tinha a dizer.


O garoto sempre soube que o Mago era um tagarela. Nunca teve duvidas sobre isso, mas hoje em particular, Endeavour estava quebrando todos os limites de que uma pessoa consegue falar. Yue se debruçou sobre a mesa, colocando as mãos sobre o retrato e o devolvendo ao tio, arrastando-o pela mesa e fechando os olhos enquanto Keepler continuava a partilhar de sua história.


Assim que o homem terminou, Yue se recompôs e bateu as pontas dos dedos na madeira, uma de cada vez, como se fossem teclas de piano tocadas uma após a outra.


— Dez de abril, quarta-feira. — Respondeu o garoto de imediato.


Ele se levantou da cadeira finalmente e se esticou todo, olhando o mais velho se curvando e achando aquilo desnecessário. O Yagami moveu as mãos, dispensando o ato do tio, ele já falou de mais, deu para entender o que ele queria dizer ali.


— Mama não disse nada sobre isso, ela apenas disse que voltaria em seu tempo. — E com isso, sabendo que não via há muito o seu tio, e por ele lhe perguntar a data de hoje, Yue já teve um pensamento rápido de que este não tinha ideia do que se passava do lado de fora.


O garoto se pôs a olhar os desenhos novamente, ele gostava dos formados, curiosidade o dominava para perguntar sobre o que isso se tratava, mas para falar a verdade, Yue não tinha muita vontade de papo, o rosto da menina naquele posto ainda ficava em sua cabeça, quem iria pegar uma pessoa daquelas? Por que elas estavam sumindo? Quem estava fazendo isso? Além desses pensamentos repetidos, o Scion ainda tinha a noticia que viu antes do tio lhe enviar a mensagem, o que o fez perguntar a Endeavour:


— Você por algum acaso andou vendo ou lendo jornal? — Perguntou o rapaz se curvando sobre a mesa para vasculhar mais coisas, achando desenhos que não aparentavam ter união alguma, mas que por algum motivo em sua cabeça o garoto enxergava um padrão que só ele via, entendia. — Eu sei que a sua intenção em me chamar aqui é boa, de oferecer de certa forma o lugar, mas acho que não estarei vindo aqui sempre, na verdade, minha mãe deve estar me caçando agora.


O rapaz depois de moldar folha por folha, colocando uma sobre as outras até fazer um desenho disforme, deu continuidade a fala, sabendo que seu tio poderia chegar a um falatório maior ainda, falando e falando coisas que nem tudo passariam pelos ouvidos do Yagami mais novo. O Scion podia ouvir tudo, mas não queria dizer que ele daria atenção extrema, o rapaz podia muito bem desviar seus pensamentos rapidamente para algum canto sombrio de sua cabeça.


— Nesses últimos tempos andou acontecendo umas coisas... Pessoas andaram sumindo e alguns até mortos. Tudo bem que gente morrendo nessa cidade não é novidade, nem mesmo outros ficarem desaparecidos, mas... A forma que isso tudo está acontecendo é meio surreal, tipo, dizem que quem está fazendo isso não está atrás de algo, ele meio que não tem padrão em nada, parece que gosta... E estão achando que os desaparecidos tem alguma relação com isso.


Foi encerrando uma das maiores falas de sua vida que Yue voltou a sua brincadeira com os papéis até que se lembrou de algo importante.


— Que coisas são essas? O que você vai ficar fazendo aqui?





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Dimensional Hunt. Empty Act. III - Arts

Mensagem  Convidado Sáb maio 25, 2019 5:22 pm





O moleque não era de falar muito e Keepler não esperava reação diferente, embora tivesse a esperança de ouví-lo reclamar um pouco de sua ausência, mas para vê-lo tomar tamanha postura tinha de ser algo terrívelmente gritante, o qual não fosse possível deixar passar ou ignorar, então se Yue não reagiu assim significava que ainda estava dentro dos limites de tolerância do garoto, o que era um alívio… Todavia, ainda havia a pequena demônia de cabelos flamejantes, Lilith, e pelo temperamento da sobrinha sua língua não pouparia palavras caso estivesse chateada ou magoada com isso. Era nesses momentos que os opostos dos meninos apareciam e, de um jeito engraçado para ele, tornavam as coisas equilibradas da maneira certa. Mesmo sendo dois pentelhos, o rapaz ainda conseguia ser mais obediente e, pelo que foi dito pela mãe sobre o “tempo de Endeavour” deixava uma linha de pensamento sobre Yue ter entendido melhor a mensagem, até porque… Ele entendia muito bem as questões envolvendo seu próprio espaço e o espaço dos outros.

Por partes End foi respondendo o sobrinho. Quando ouviu a data atual um assobio rodopiou no ar, estava visivelmente surpreso, não imaginava que tinha se enfiado naquele “esconderijo” por tantos dias. Acenou negativamente com a cabeça quando foi questionado sobre ter visto ou lido jornal esses últimos tempos, mas quando ouviu sobre Dean estar “caçando” o filho, Keepler soltou uma risada, deixando um sorriso escapar no canto dos lábios. Decerto seria algo feito por ela, mas antes que retrucasse sobre aquilo às vezes só parecer corujice dela, o provável motivo para isso foi exposto pelo menino, mas um trecho específico da fala do Yagami fez o mais velho olhá-lo com o canto dos olhos com uma atenção diferente:. ...Tudo bem que gente morrendo nessa cidade não é novidade, nem mesmo outros ficarem desaparecidos....

Normalmente o mago mantinha uma postura de etica e moral muito voltada para o bem coletivo e o sentimento de humanidade na frente dos filhos da amiga, a própria educação que eles recebiam, de viver como pessoas normais, apesar dos pesares, evidenciavam de que sentir-se humano ou entender a importância de viver como um era imprescindível para a formação deles. Todavia, ele não discordava dessa afirmação, na verdade, mesmo sendo mais novo que Coroline (muito mais novo), o Diamond já havia visto o pior dos homens e as mais variadas desgraças que eram capazes de fazer a si mesmos e aos seus semelhantes. Participou das guerras santas, e mundiais de um local nada incomume, se enfiou em meio à essas tormentas muito por conta da esposa, visando protegê-la e defender os ideais da mesma, contudo se estivesse sozinho no mundo, certamente apenas assistiria aquilo tudo como um filme hediondo ligado no modo repeat infinitamente. Mesmo tendo aversão a carnificina, foram nessas batalhas que pôde presenciar pessoas sendo divididas ao meio por espadas em uma época e em outras despedaçadas por uma mina terrestre, ou ainda corpos mutilados pelos vastos campos, fossem por corte ou alvejadas por milhares de balas. A terra quando é banhada com sangue e orgãos tem uma textura bem diferente da mesma terra lavada com chuva… O cheiro é outro, o gosto é outro, o cenário é totalmente destoante uma da outra. E isso sempre iria acontecer, não importava o local nem o tempo. É um dos males da longevidade, muitas coisas são apenas repetições de outras coisas já anteriormente feitas, só que com outros ingredientes, formatos e sabores. Tipo bolo de cenoura, bolo de chocolate, bolo de ovos: É tudo bolo, mas com suas particularidades, mas ainda são bolo.

Não se preocupe com isso… As pessoas vão continuar morrendo e se matando por qualquer motivo… Ou por motivo nenhum! O mundo vai girar do mesmo jeito de sempre. Apenas ignore e siga seu rumo normalmente, garoto. Não perca seu tempo pensando nisso” - Foi a ideia que serpenteou pela mente de End e por pouco saiu pela língua, ele manteve-se parado e em silêncio, reflexivo. Aquilo certamente poderia causar a fúria da mãe do menino e ele não estaria agregando nada de positivo ao garoto. Das várias máscaras de Endeavour as quais ele estava disposto a deixar cair e se mostrar verdadeiro e sincero para com seus sobrinhos, essa era uma que ainda deveria manter: A de um homem velho que não estava ligando para os problemas terrenos e dos humanos normais, exceto se isso afetasse seus entes queridos e próximos, do contrário não estava disposto a mover-se em favor dessas causas.

Por um instante, desviou o olhar e recolheu as quentinhas vazias para jogar no lixo, para só depois de alguns segundos respondê-lo.

[Keepler]: Hm… Sua mãe está certa em se preocupar um pouco mais dessa vez. Embora aqui dentro não tenha sinal de telefone, quando sair ligue ou mande uma mensagem dizendo onde estava. Não custa nada, dada as circunstâncias. Ainda assim, quando quiser vir, estarei de portas abertas! - Preferiu não dar mais tanta corda ao assunto, mas considerou um pouco sobre a D. estar bem alerta para com a saída dos meninos, talvez desse uma olhada mais tarde nas notícias para saber melhor os acontecimentos.

Uma postura de satisfação e empolgação reconfigurou toda a expressão do rapaz quando o menino perguntou sobre os desenhos, como um professor que consegue fisgar a atenção do aluno.


[Keepler]: Oh! Essas coisas? São os móveis e outras coisas que estou projetando para colocar aqui dentro. Eu faço os esboços, procuro a peça certa, preparo o material e monto...- Disse com certeza leveza na fala.  - Meu avô era carpinteiro, não pude aprender a profissão com ele, mas muitos anos depois eu passei a praticar por puro lazer… Assim como Pociologia, Alquimia, Metalurgia, Mixologia, Jardinagem... - Cada área que dizia, mostrava alguns desenhos das mesas de trabalho que tinha arquitetado para montar e por ali. -A sua tia… Minha esposa, me ensinou joalheria. Eu sei lapidar pedras preciosas e transformar em jóias. Foi como a conheci, ela ia estudar uma pedra pra mim e ver o quão valiosa ela poderia ser caso virasse uma joia… Todavia, você sabe… As coisas comigo nunca são tão simples. Não era uma pedra qualquer e virou uma confusão. -

Tirou uns desenhos mais antigos de projetos de joias e pedras preciosas, havia uma série de medidas e cálculos nesses esboços em específico, como se fosse algo muito mais complicado que construir um armário. E realmente era. Ainda assim, havia uma variedade considerável de formatos geométricos e ideias quase tão bem desenhadas que visualizar a pedra em sua frente de maneira concreta não era impossível. Havia uma expressão de vida muito forte no que diz respeito a lapidação das pedras preciosas, talvez porque o mago fizesse com tanto amor e dedicação, em memória a sua companheira, que se dedicava de um jeito especial.

Alimentado, sentia o corpo bem mais disposto, isso ficou claro pelo quanto estava “elétrico”. Mesmo falando com o sobrinho, sua cabeça tinha uma caralhada de ideias e atividades rodando e o instigando a fazer tudo de uma vez. Chamá-lo de hiperativo tornava a palavra incapaz capaz de dar conta de toda a capacidade energética do mago. Isso porque estava inspirado, é claro. Quando essa tempestade de empolgação passasse, ele quase se tornaria tão apático e quieto quanto um doente. Acontece isso também.

[Keepler]: Aqui vai ser uma imensa oficina. Onde eu vou poder estudar tudo o que eu tiver vontade. - Deu uma volta na base do tronco de árvore e do outro lado pegou uma caixinha e uns papéis, abrindo o recipiente e mostrando [ur=https://i.pinimg.com/564x/4e/a6/d0/4ea6d0514ca81a3ae72ad557fea4ed38.jpg]uma pedra[/url] para o sobrinho e os esboços de jóias que queria fazer (IMG1, IMG2). - Ainda não sei se faço um colar, um anel ou uma peça para alguma armadura, sei lá… O que você acha que formato ou objeto poderia combinar com ela? - Disse aproximando a pedra das mãos de Yue, em uma expressão a qual queria passar confiança e de que ele poderia pegar o objeto sem medo de quebrar ou algo do tipo para que o próprio menino pudesse tirar as próprias conclusões e dar sua opinião. Aguardou e observou as reações do menino por um tempo, até que sua ideia mudou de repente sobre o que fazer com o mineral.

[Keepler]: Ela agora é sua. Pode dar um nome a ela. Acredite, é legal. O que você escolher para a “nova forma” dela, seja ideia ou um esboço em desenho, tentamos fazer e ver no que dá quando estiver de passagem por aqui ou quando não tiver nada legal pra fazer. -

Esticou o corpo em um espreguiçar intenso, dando para ouvir alguns ossos estalando por tal movimento. Se direcionando a uma pequena estante onde havia alguns sapatos, pegando um par qualquer para calçar.

[Keepler]: Vai para casa depois daqui? Se quiser eu te acompanho até em casa para aliviar a tensão de D. De qualquer forma, vou sair um pouco, caminhar e mudar de ares, acho que ja fiquei tempo demais aqui dentro, vai ser bom. -

Acompanhado ou não do sobrinho, o mago iria passear um pouco pela cidade, mas não somente isso. Iria carregar o celular no apartamento e também ficar mais por dentro dos acontecimentos da cidade, só para não ficar perdido no mundo em relação aos demais.





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Dimensional Hunt. Empty Re: Dimensional Hunt.

Mensagem  Convidado Dom Jun 02, 2019 4:06 pm


 029.The Ruler of Blood.





— Mamãe sempre se preocupa demais. Você pode não ouvir uma palavra dela, nem um gesto, mas a gente sabe que ela está de olho, mamãe sempre está observando tudo, o que eu acho estranho... Ela não parece ser alguém dessa forma..., mas... — Yue estava falando para si mesmo, mais baixo do que normalmente ele dizia. — Eu acho... Que eu virei sim... — Disse ele dessa vez, um pouco mais alto para Keepler ouvir.


Após completar o seu pequeno “monólogo”, o jovem redirecionou toda a sua atenção para o Endeavour que explicava sobre os desenhos, com isso, End começou a falar e falar, conseguindo um raro efeito de manter a atenção de Yue sobre ele a mais tempo do que o esperado, e isso tudo era os desenhos que ganhavam forma na cabeça do rapaz, cada pedaço que ele dizia, o maquinário mental do Scion funcionava rapidamente para produzir (ou tentar) o mais próximo possível do que seria aquilo.


Essa era uma das formas que Yue tinha para se entreter, e o ápice do divertimento momentâneo que ele tinha ali, foi quando Keepler apresentou uma joia avermelhada, que fez com que o garoto se aproximasse do menor.


— Hu... — Suas pálpebras se abaixaram um pouco, mesmo que ele não desse o seu típico olhar de morto, que era um semblante desanimado, desinteressado com o que acontecia, havia uma singela luz de apreciação para cima do objeto, Yue visualizava algo de especial ali, talvez, se fosse lapidada no formato de uma coração, ele poderia dar de presente para alguém... Ou guardar para ele mesmo, por motivos próprios.


Quando pensou em responder Keepler, o Endeavour acabou lhe tirando essa ideia ao dar para o jovem rapaz a pedra.


— Eu acho que eu sei no que quero que ela se transforme... Também tenho um nome para ela. — Mas ele não disse qual, apenas desviou a atenção da mesma e voltou a observar o tio.


Esperar Keepler a fazer a sagrada “arrumação” que é quando toda a pessoa seguia um mini ritual para poder sair ou fazer sabe-se lá o que não foi muito demorado, e nem agradável. O jovem Scion ainda sentia que alguma coisa estava a espreita. Porém, Yue também tinha a sensação de que isso era falso, fruto do susto que recebeu de Alice e as incontáveis notícias desgracentas que estavam ocorrendo na cidade nos últimos tempos.


Mas era assim, pelo que Yue conhecia dessa cidade, desgraça é apelido carinhoso.


Não... Eu agora tenho dinheiro para ir na loja de quadrinho... Eu quero ver se tem uma revista nova, se quiser ir, pode ficar á vontade em ir, se não, tudo bem, de lá eu vou para casa.


Yue estava já se virando para ir saindo, quando ouviu o moreno atrás de si pigarrear. O Scion olhou o tio por cima do ombro, piscando apenas uma vez, e centrando as orbes vermelhas na feição dele. A expressão de Keepler era um mistério para o Yagami mais novo, não sabia se era preocupação, se estava se preparando para lhe bronquear ou coisa parecida.


Yue, eu sei que não tenho autoridade de dizer a você o que pode fazer ou não, mas não acha que pelo que me disse, não seria melhor apenas ir para casa? Quero dizer, a loja estará amanhã no mesmo lugar, e pode ser que ir amanhã seja melhor do que ir hoje, não? — Keepler deu aquele sorriso convincente, onde o jovem nunca sabia se ele estava tentando convencer a si mesmo ou a ele de que o que ele falava era a posta certa.


O Scion não era de seguir muito os outros, a maioria das coisas que ele fazia casava de certa forma com alguns desejos pessoais de outros, como onde ir exatamente – Isso quando ele conseguia – Voltar na hora certa e outras situações. Podia ser que desse a impressão de que Yue era um bom filho, mas para falar a pura verdade, ele não era muito diferente de um humano cheio de si ou um Éther aventureiro, ele fazia o que queria, e dificilmente ele obedecia uma ordem, podia ser até que um dia ele mudasse um pouquinho, já que isso fazia ainda parte do seu entendimento de certo ou errado, mas no final, ele sempre achava um jeito de fazer as coisas que agradavam a ele, e que estranhamente não incomodavam ninguém.


Além do mais, o que uma pessoa que não gostava de ser incomodava, iria gerar incomodo? Não tinha como isso acontecer, o Scion não era o maior fã de ninguém.


—Tá. — Foi a única resposta que ele deu a seu tio de consideração e foi andando para fora, tendo um pequeno problema para abrir a tampa do baú, precisando dar passagem para Keepler fazer isso.


Dali, Yue foi mesmo para casa, mas ele decidiu aceitar a companhia do tio.


O estômago do Scion doía, mesmo após ter tido uma boa refeição, a barriga de Yue dele ainda estava dando nó, forçando cada parte de suas entranhas a alarmar o garoto de que ele precisa mais e mais se alimentar.


O garoto Yagami não sabia o que fazer, cada dia as coisas pareciam mais complicadas, ou seria apenas impressão? Apesar das coisas que estavam acontecendo, o jovem tinha seus próprios problemas pessoais a lidar, como por exemplo, administrar um remédio que ele tomava para manter sua cabeça turbulenta em ordem, fazê-lo ouvir seus próprios pensamentos ao invés das inúmeras vozes, e coisas de seu imaginário que bombardeavam cada lado de sua mente, pode até parecer que Yue tomava algo pesado, mas na verdade, era uma coisa tão natural que funcionava melhor que a maconha, deixava ele calmo e inibia a dor que ele sentia quando as coisas passavam dos limites.


Além disso, o Scion vinha todas as noites, sempre que a casa estava adormecida a sair com sua mãe para caçar. Assim como seu problema mental, Yue tinha um instinto que crescia a cada dia de forma desenfreada, e para ajudá-lo a controlar-se, sua mãe Coroline, passou a sair com ele, sempre ao fundo da floresta, mais para seus confins ou acima das cachoeiras de Barbaroi Fall’s onde dificilmente algum residente ia se aventurar para caçar. A mãe não via necessidade de reprimir o que acontecia com fisicamente com Yue, era inevitável, assim como as mudanças que vieram para ela em uma idade bem nova, o mesmo era capaz de acontecer com os seus filhotes.


Apesar de ter sido concebido com a união de um humano, Yue tinha o sangue de um Éther que compunha o dele, o que fazia a mais velha nunca descartar nenhuma possibilidade, e foi certo o que Dean fez. Ela o ensinou a caçar, e quando um prato de comida não era o suficiente, ela sempre o seguia para longe, lembrando-o de como ele deveria seguir uma presa, rastrear, e acima de tudo, saber o que não podia fazer.


Todas essas coisas eram de certa forma problemáticas para Yue. Acidentes aconteciam e ele quase, quase acabou pegando um caçador, mas se não fosse pelo costume do que já estava fazendo, ele provavelmente não teria se contido, podia ter machucado ou matado alguém, não tinha como isso um dia não acontecer, no entanto, na hora fatal ele se conteve, bateu na cabeça do homem com força o suficiente para desmaiá-lo, e foi-se embora. Deixou as garrafas de cerveja em volto dele, o homem já fedia a álcool e Dean, como normalmente sua mãe era chamada, ajudou-o a armar o cenário, lembrando a Yue que a melhor coisa que se fazia com alguém que via algo que não devesse, era fazê-la se esquecer disso da maneira mais natural possível, e para isso podia-se usar o cenário a seu favor e algumas coisas comuns, como se aproveitar de uma bebedeira.


Além dessas coisas, havia outras que o rapaz não queria se lembrar nesse momento.


Com o estômago gritando, Yue foi em direção a sua casa.


Andar com o Scion era o mesmo que andar sozinho. Ele não falava nada, não comentava quase nada. Podia ser uma desfeita para quem estava ao lado dele, mas para aqueles que o conheciam bem, já sabiam que o rapaz não falava muita coisa, e às vezes não falava nada. O moreno caminhou com o seu tio por todo o trajeto, parando de vez em quando em uma vitrine para olhar algum objeto que ele gostava, ou ver algum animalzinho que chamasse sua atenção, sempre sem falar nada, apenas parecia que ele aproveitava e muito a companhia de si mesmo e desses pequenos momentos.


A casa do Scion ficava na região do Campanário, não era perto, mas tava ali em algum lugar do mapa. O Yagami mais novo morava com sua mãe, o seu pai e suas três irmãs, Alice, Lilith e Rose, a Android 21. Dentro da casa só tinha dois homens, ele e seu pai Iori, ser que era o motivo do rapaz ter cortado a sua longa cabeleira, e quando apareciam, Keepler e Setsuna faziam campo com eles contra a mulherada da casa, não que fosse adiantar muita coisa, a força maior, Dean, ainda era quem eles tomavam muito cuidado com o que faziam ali dentro.


Yue abriu os portões depois de tomar uma surra para encontrá-la no bolso de sua calça, o rapaz deixaria Keepler entrar caso ele quisesse ver alguém, ou se despediria do tio ali no portão, de uma jeito ou de outro, Yue acabaria indo primeiro para dentro da casa, abrindo a porta sem fazer barulho e franzindo o cenho, vendo a figura paterna parado na porta da cozinha.


Um olhar raivoso tomou conta do Scion assim que ele e o ruivo se encontraram de certa forma enquanto o rapaz ia para o quarto, cuja a porta era abaixo da escada, dando acesso a uma sala velha que ninguém usava e que se tornou a sua “fortaleza sombria”, com vista para o jardim dos fundos e a janela da vizinha, depois que Rose foi adotada.


Ele não estava querendo ter conversa com o maior. Yue estava de saco cheio de ser incomodado por fantasmas que não eram dele.


Indo direto para o seu lugar, Yue tirou as coisas dos bolsos da calça, jogando em cima de uma mesinha que ele tinha do lado de um hack pequeno com o seu computador, que estava largado ali, sem muito uso pelo Scion. A mesinha costumava a ter uma tela, que ele tirou da base para fazer um desenho melhor.


Desenhar acalmava Yue, mas ainda assim tirava a sua mente de todo o resto, e livrava-o das imagens bizarras e sombrias que viviam em seus sonhos. Infelizmente, por mais que Yue tentasse se cuidar para se livrar da dor e da loucura, o híbrido não podia escapulir dos seus sonhos que a cada dia, ficavam mais propensos a privá-lo do sono.


— Pronto, menos uma coisa. — Disse o garoto para si mesmo enquanto tirava as suas roupas, vestia uma regata verde musgo, cheio de riscos pretos como pinceladas de um pincel descabelado, e bermuda marrom, com os pés descalços, Yue virou-se para a parede em frente a sua cama, onde ele pendurava todos os seus desenhos, e os seus sonhos.


No meio desses desenhos havia imagens que ele não compreendia. Quase todo sonho tinha algum significado, representava alguma coisa para o jovem, mas ultimamente, alguns não eram aquilo que Yue pensava ser. Ele se aproximou mais da parede e ficou olhando fixamente para um grande, onde o desenho lembrava muito a Slam Free Field, mas estava cheio de coisas no chão, como pedaços, compartimentos de ferro, peças de roupas e uma sombra bem a fundo, como sempre na espreita. Não era aquele bicho esquisito, um animal que sempre ficava na espreita quando alguém inventava de lutar por aquelas partes ruins, mas sim algo mais, muito mais esquisito e que Yue não sabia dizer o que era, mas tinga a singela impressão, de que no fundo escuro, tinha algo o olhando.


Poderia ser o imaginário do rapaz falando alto, como ele poderia saber? Para Yue não tinha distinção da realidade e da sua imaginação, assim como ele não conseguia distinguir se estava falando com um vivo ou morto, se alguém estava sendo sarcástico ou sincero, se estavam lhe dizendo a verdade e nada mais.


— Vamos trabalhar. — Ele pegou um estojo que havia ganho para fazer os seus desenhos, tirou o lápis mais grosso que havia ali, uma borracha e a régua pequeno, se aproximou desse desenho em particular e começou a rabiscar os resquícios de seus sonhos.


Na noite anterior, ele estava ali em Slam Free Field, vendo aquele cenário estranho, e o jovem podia jurar que ele ouviu sussurros que não faziam parte do seu couro enlouquecedor, alguém chamava, alguém pedia ajuda, e o pavor chegou tanto a ele, que o menino se viu ali, estranhamente ali, justo naquele ponto assombroso, onde diziam as línguas que um assassino fez as suas vítimas, ponto que estranhamente se tornou os maiores palcos de mortos nessa cidade, todo mundo que sumia, morria, era jogado ali como um pedaço de carne. Yue, lembrava-se muito bem de que no escuro ele sentiu algo o olhando, mas era apenas sonhos.


Sonhos que não significavam nada, sonhos que significavam tudo.





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Dimensional Hunt. Empty Act. IV - Old Steps

Mensagem  Convidado Dom Jun 16, 2019 1:02 pm





Era impossível discordar do que ele havia dito sobre a mãe estar observando tudo, sequer seria plausível questionar a veracidade daquilo pois sabia bem que se ela quisesse vê-los nada iria impedir isso. Todavia, entendia a ‘corujisse” dela, não podia esperar menos da mulher que sabia muito sobre como o mundo podia ser cruel e escroto e quantas coisas vivem a espreita nas sombras.

Sentia-se satisfeito em ter conseguido atrair a atenção do sobrinho para uma de suas atividades de lazer, seria uma forma de se aproximar mais dele e quem sabe acrescentar algo positivo e útil para o mesmo. Encontrar uma ocupação para os meninos para viverem entre os homens de maneira normal talvez fosse uma das coisas que traria alívio ou conforto para Dean, e Keepler também se sentiria mais orgulhoso de si em poder ajudá-los com isso, não impondo ou querendo lhes dizer para onde ir, mas dar-lhes auxílio no caminho que eles decidissem trilhar.

Já havia falado muito para uma única noite e sentia que uma hora ou outra as orelhas do menino iriam cair depois de ouví-lo tanto. A sugestão de que o mesmo fosse direto para casa veio a calhar e o fato de Yue dar-lhe ouvidos era realmente importante para o mago. Por meses ele fora um dos adultos mais próximos dos meninos e, mesmo que não houvesse laço sanguíneo, sentia-se parte da família e compartilhava da mesma preocupação e cuidado que os outros tinham com ele. Embora a ideia de ser um “intruso” nunca lhe saísse da cabeça, as vezes a sensação era de ser igual a um mordomo antigo numa família:  Tinha a palavra, a licença para falar e aconselhar, poderia ser muito íntimo de todos, todavia estava numa posição distinta a qual não podia ser ignorada. Os ultimos acontecimentos na família Yagami tinham reforçado essa imagem, não era de todo ruim, pelo contrário, isso reforçava um pensamento que havia adormecido em sua mente logo após o fim dos Diamonds, pensamento este o qual parecia florescer gradativamente em sua cabeça.

Quando os meninos lhe ouviam de primeira, imaginava estar no caminho certo, que estava compreendendo-os mais pouco a pouco e, em mesma proporção, conseguia respeitar o espaço de cada um deles a sua maneira. Lilith ainda era mais fácil de entender porque ela conseguia pôr pra fora o que sentia, enquanto Yue cada vez que falava o que pensava ou sentia podia ser um momento único e importante pela raridade a qual se dispunha a fazer isso.

Após fechar a caixa dentro da van, seguiram pelas ruas a noite, ambos em silêncio, mas caminhando lado a lado. Sequer pensou em forçar uma conversa ou algo do tipo, apenas acompanhava, percebendo os locais que o garoto parava e as coisas que lhe chamavam a atenção, deixando-o entreter-se nelas sem pressa. Andar sozinho e estar ao lado de Yue, para Keepler, tinham dois sentidos muito diferentes. Havia um laço entre os dois, então o “rosto” do Yagami poderia ser identificado por ele facilmente, mesmo se houvesse uma aglomeração gigantesca de pessoas. Por que? Esse é o contraponto, todas as pessoas normais para Endeavour não tinham uma face, sem expressão, como uma folha de papel cinzenta, como um véu bloqueado sobre a cabeça delas. A existência delas era irrelevante para ele, ja tinha visto tantos milhares que tentar armazenar a memória sobre elas na sua mente seria um esforço desnecessário. Além das criaturas excepcionais que conhecia, havia uma parcela daquelas pessoas normais que se sobressaiam e conseguiam reter parte da atenção do mago para si (Como o velho carteiro do seu prédio, seus colegas de serviço ou pessoas que estava em constante contato), no demais era um imenso mar de estranhos em sua volta.

Sua mente, entretanto, ainda podia ser bem inconveniente para ele: Se houvesse um crime ali, em frente a vitrine onde Yue observasse algumas coisas, End seria capaz de descrever toda a cena a sua volta e as pessoas ali com uma precisão assustadora. Como um poderoso computador ligado com várias tarefas em execução, uma em primeiro plano: que era escoltar o sobrinho, e outras mais em segundo plano fazendo outros trabalhos no automático - Quase literalmente fotografando e filmando, sentindo e filtrando energias em volta e etc.

Mesmo que o garoto não interagisse com ele como uma pessoa normalmente faria, End estava alegre por acompanhá-lo, saindo do que normalmente lhe acontecia, que era caminhar sozinho em meio a pessoas vazias. Também não era só andar, a escolta tinha como objetivo garantir que o sobrinho ia chegar em casa inteiro sem se esbarrar em nenhuma encrenca, mas também servia para que o mesmo não recebesse alguma bronca ao chegar em casa, visto que talvez bastasse dizer que estava acompanhado do tio e não estava vagando sozinho.

O portão rangiu quando Yue o abriu e passou pelo mesmo. O mago tratou de balançar mais umas duas vezes o objeto fazendo o ruido ecoar no ar, se abaixando para olhar direito.

[Keepler]: Isso aqui vai precisar de uma graxa… Amanhã eu devo dar um jeito nisso e...- Reparou que o garoto estava quase alcançando a porta de casa. - Hey! Boa noite, Yue! Manda abraço para o pessoal e diga que amanhã ou depois eu apareço! - Acenou em despedida com a mão antes do garoto entrar na residência. Em seguida fechou a entrada e seguiu pela calçada com as mãos no bolso.

A familia Yagami havia acertado suas coisas, Coroline não morava mais sozinha com seus dois filhos, tinha novas crianças e havia se reconciliado com Iori. Inconveniente seria pouco para descrever se o End mantivesse a rotina de sempre aparecer por lá ou as vezes dormir na sala ao ver filmes até tarde com os sobrinhos. Os tempos eram outros. Além do mais, falando por si mesmo, Keepler não nutria amizade com o ruivo, evitava trocar palavras e até mesmo estar perto, não havia espaço para o mago aparecer sem um clima estranho crescer no ar. Os motivos para o Diamond não se bicar com o outro rapaz giravam em torno dos meninos, na devida hora iria tratar do assunto, mas não agora.

♦

O trajeto que geralmente era feito de bicicleta ele fazia agora a pé, demorando um pouco a chegar ao apartamento, onde apenas deixou o celular carregando na tomada. Esse era um de seus objetivos naquela noite, o segundo era encontrar alguém vendendo jornais das últimas semanas e não apenas do dia, o que não seria fácil de encontrar a menos que fosse num jornaleiro bem antiquado. Se o telefone estivesse com carga, teria arriscado ver as notícias na internet, mas sua aptidão com o aparelho não era uma das melhores.

Em uma banca de revista perto do centro da cidade, encontrou um Sebo de livros e jornais perto da hora de fechamento, o que fez o mago ser bem mais agil e preciso no que queria.

[Keepler]: Boa noite, com licença! Tem os jornais das últimas semanas aqui? -

[Atendente do Sebo]: Sim ainda temos alguns exemplares aqui. Algum interesse em especial? - Perguntou com curiosidade.

[Keepler]: Estive fora por alguns dias e retornei hoje mais cedo, fiquei sabendo de uns crimes que acontecem pela cidade… Como estou sem celular, achei que seria mais fácil encontrar notícias nos jornais… Ainda que a maioria prefira a internet, eu gosto de ter o papel em mãos... - Precisava de uma historinha mais plausível do que falar que estava criando uma enorme oficina em outra dimensão durante todos esses dias.

[Atendente do Sebo]: Tem acontecido umas coisas bem estranhas aqui, não que bizarrice seja novidade em 2nd, mas… Essas mortes, acho… Acho que nunca tivemos algo tão grotesco por aqui. - A pessoa parecia realmente incomodada com o assunto, provavelmente tinha visto alguma imagem na tv ou nos próprios impressos que tinha ali. O segundo comentário de End, por sua vez, a ajudou a escapar daquela linha de pensamentos ruins - Sim, hoje ja consideram a leitura de livros e jornais algo antiquado com a tecnologia, mas eu ainda gosto deles, é algo mais ‘palpável’, sabe?

Keepler anuiu positivamente com a cabeça enquanto olhava o funcionário do estabelecimento selecionar uma unidade de jornal de pilhas distintas, pondo-as no balcão com cuidado.

[Atendente do Sebo]: Exemplares das editoras mais conhecidas da cidade, desde o inicio dos crimes até hoje. Os que eu li não haviam muitas divergencias nas informações, mas é bom ter mais de uma fonte de leitura....

[Keepler]: Obrigado! Acho que é o suficiente, quanto custa tudo? -

[Atendente do Sebo]: R$0,25 cada unidade, vai dar um total de R$5.

Endeavour pagou os custos e saiu com uma sacola grande de jornais dobrados logo após o funcionário fazer aquela cerimônia de “Obrigado e volte sempre!”. O mago nem sequer tinha se preocupado em notar o rosto da pessoa e não se daria o trabalho de buscar a imagem dele em seu subconsciente. Estava mais intrigado em sua nova pesquisa. Comprar tantos jornais para ler sobre as mortes e desaparecimentos. Por que? A resposta era óbvia demais e podia ser até simplória para um estranho: Porque seu sobrinho mencionou. Yue é do tipo que não fala pelos cotovelos e nem diz qualquer coisa de qualquer jeito, e se ele tinha gastado seu tempo de fala sobre o assunto é porque deveria estar no mínimo incomodado.

Podia ter deixado pra ler todos aqueles jornais no apartamento enquanto o celular carregava, mas a ideia de ter saído do refúgio era exatamente mudar de ares. Mesmo não sendo muito familiarizado com a tecnologia (Mais por falta de interesse), decidiu que iria à um Cybercafé no centro da cidade, próximo da 5th Ave. & 2nd St. Mesmo parecendo impossível uma pessoa não ter internet em casa ou no celular, esse tipo de estabelecimento conseguiu fazer um jogo de cintura para não desaparecer. Ao invés de ter apenas corredores com PC’s, disponibilizavam wi-fi ao clientes que trouxessem seus próprios eletrônicos e um espaço alugável para reunião de estudantes para pesquisa ou de negócios. Naquela hora o local ainda recebia uma frequência significativa de estudantes universitários que preferiam fazer os trabalhos ali do que no seu pequeno inferno dentro da própria casa (aqueles que ainda moravam com familiares). Além disso, também era como uma espécie de lanchonete capaz de suprir as necessidades daqueles que madrugavam ali dentro.

Endeavour ia para lá as vezes quando saía do trabalho para tomar um belo copo de Capuccino e comer uns Waffles. Assim que o sininho da porta tocou, um dos atendentes olhou para ele e o reconheceu, abrindo um sorriso simpático.


[Atendente do Cybercafé]: Boa noite, senhor Keepler. A tempos que não o vemos aqui,  vai querer o de sempre ou algum outro pedido?- Perguntou com curiosidade.

[Keepler]: Estive bem ocupado ultimamente. Por enquanto só vou querer um Capuccino grande, por favor! -

O rapaz anuniu com a cabeça indo preparar o pedido enquanto o mago se dirigiu para uma mesa num canto de parede onde costumava a ficar, passando por alguns jovens estudando, um casal mais maduro em um jantar delicado e outro homem solitário lendo um livro. Já foi dito aqui que End entra de cabeça nas coisas que faz? Leu algumas notícias locais sobre o time de baseball local ter tido mais uma vitória invicta nas semifinais da copa nacional, ou ainda sobre escândalos envolvendo empresas ligadas ao narcotráfico. Contudo, era apenas um passeio pelas palavras e informações, tinha que aproveitar o dinheiro que gastou naqueles papéis e certamente não iria jogá-los no lixo logo de cara, a lareira precisava de coisas para queimar, forrar o chão ao passar tinta e verniz nos móveis e outras coisas as quais os jornais viriam a calhar. Ao chegar nas manchetes sobre os desaparecimentos e mortes, a feição do mago se endureceu e eles passou a ler atentamente, com aquela enorme folha cobrindo todo seu rosto e tronco.

Uns jornais eram mais objetivos e descritivos, outros tentavam levar ao sensacionalismo e ainda havia aqueles que não pareciam se preocupar tanto com aquele tipo de crime tão banal na cidade, podia dizer isso apenas em observar o tamanho da notícia e em que folha estava e a quantidade de informações que traziam. Nenhuma mágica, mas todas elas retratavam as mortes com as palavras “carnificina”, “massacre”, “mutilações”, “açougue humano”. O que justificava a ausência de fotos dos corpos na capa ou apenas uma imagem ilustrativa de algo dentro do contexto. Já havia lido metade do acervo que tinha comprado quando lembrou-se do pedido feito quando chegou e, ao abaixar o jornal, viu o copo do seu lado esquerdo sobre a mesa. Provavelmente o atendente colocou ali, o chamou e por não obter resposta preferiu não interromper sua leitura. A bebida estava quase fria quando provou, tomou tudo em poucos goles e assim que teve contato visual com o rapaz que tinha lhe recepcionado, fez um sinal para trazer outro igual.

Os olhos do mago repousaram sobre a imagem de um beco cheio de faixas amarelas de contenção e uns policiais fardados perto de uma viatura e dois homem de terno conversando na entrada da passagem. Outra cena passou pela mente de Endeavour, que acabou comentando em voz alta para si mesmo.

[Keepler]: Jack Estripador não foi difícil de rastrear quando ele chegou em Paris. O problema em Londres foi a arrogância da polícia e o oportunismo da mídia, mas acima de tudo a ignorância deles em achar que estavam caçando um humano normal...-

Por sorte, seu comentário não foi ouvido pelo garçom que chegou com sua nova bebida, Keepler viveu em Paris por séculos e, quando os rumores do assassino em série vazou para o mundo, ele acompanhou todo o desenrolar da história a qual o final teve de permanecer escondido por motivos bem especiais. Olhando para onde estava a bagunça estilo Endeavour já tinha sido instaurada na mesa: os jornais lidos abertos e espalhados ali enquanto que na cadeira ao lado do homem tinha os últimos exemplares a serem analisados.

A TV que exibia comerciais diversos e alguma programação irrelevante teve seu conteúdo interrompido por uma notícia de plantão urgente. A musiquinha chamativa bastava para atrair os olhos das pessoas, mas para End só após ouvir a primeira frase que seus olhos e ouvidos foram direcionados para o aparelho.


[Ancora do Jornal]: Boa noite, 2nd! Recebemos com exclusividade uma transmissão de nossos repórteres de campo sobre outro assassinato brutal na cidade. Transmitiremos agora, ao vivo, os detalhes do caso - A tela mudava de imagem, aparecendo no que parecia ser Sarah Forest, uma noite escura apenas com a luz da câmera filmadora e dos giroflex vermelho e azul das viaturas tentando iluminar algo. Uns 3 agentes distantes das costas da pessoa com o microfone tentavam conter o que parecia ser um civil bem exaltado


[Reporter do Jornal]: Boa noite a todos! Acho Estamos ao vivo em Sarah Forest onde ocorreu mais um crime violento. Fomos impedidos de chegar mais perto da área, que foi isolada. A polícia não esclareceu tudo o que pode ter acontecido, mas nos foi informado que um grupo de pessoas, não se sabe se foram campistas ou viajantes estava na floresta quando foram atacados. O que restou dos corpos foram encontrados por um caçador local que ligou para as autoridades... - A mulher deu espaço para a camera focar no homem perto dos policiais enquanto falava. - Não conseguimos entrevistá-lo devido ao seu estado de agitação, mas…- Ela foi interrompida por uma gritaria, que fez o camera se aproximar correndo da faixa de isolamento para capitar a agitação, o caçador lutando para não ser algemado enquanto se debatia contra a porta de uma das viaturas.

[Caçador]: EU NÃO ESTOU MALUCO, SEUS MERDAS! NÃO TEM ANIMAIS GRANDES EM SARAH CAPAZES DE TAMANHA ATROCIDADE! NÃO FOI UM URSO NEM NADA DO TIPO! EU CONHEÇO UM QUANDO VEJO! ISSO NÃO FOI ANIMAL, NEM HUMANO! ISSO É COISA DE DEMONIACA!

Quando o câmera tentou se aproximar mais, um outro guarda se aproximou e mandou a equipe de reportagem se afastar, enfiando a mão na lente da filmadora tapando a imagem da cena, onde se ouviu mais protestos e reclamações até o sinal ser interrompido. As pessoas na Lan House ficaram paradas atônitas olhando para a televisão, enquanto que Endeavour abaixou a cabeça e tirou um relógio de bolso mecânico, vendo que já estava perto das 3h da manhã. Muito provavelmente outros jornais televisivos e impressos falariam melhor do ocorrido no dia que viria, contudo o mago se recostou na cadeira que estava, dando um gole na bebida. Valeria a pena dar uma espiadinha? Havia necessidade de fazer isso? Um estranho aparecer num lugar isolado como a floresta não seria caracterizado como um civil curioso e sim como um suspeito… Se fosse visto.

Pegou três jornais e deixou as notícias emparelhadas: O primeiro assassinato foi em Slam Free Field, O segundo em Old Line, um terceiro o outro ocorreu em Yok Chong Market, esse agora em Sarah Forest. Isso sem contar os desaparecimentos. Fingia não ver ou não dar corda a suas paranoias, Yue comentou que os crimes até então não tinham um padrão específico, todavia o Endeavour tinha um sussurro, um pensamento distante, quase como uma pulga atrás da orelha lhe dizendo o oposto. Ainda faltava meio corpo de Capuccino e algumas páginas para ler, usaria nesse meio tempo para se decidir sobre qual passo daria a diante: Ignorar uma coisa que sempre aconteceu e sempre acontecerá com os homens ou começar uma busca apenas para aliviar sua faísca de curiosidade e poder dizer com certeza para o sobrinho que não há nada demais acontecendo?

“Tic-Tac!” Seu relógio contava. “Tic-Tac!” Sua decisão não demoraria a vir...






Última edição por 【D.K】 Kєєρlєя Eиdєαvσυr em Dom Jun 16, 2019 1:06 pm, editado 3 vez(es) (Motivo da edição : Falha no codigo)

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Dimensional Hunt. Empty Re: Dimensional Hunt.

Mensagem  Convidado Dom Jun 30, 2019 2:45 pm


 029.The Ruler of Blood.




As horas passaram e Yue se quer notou. O lápis passava de um lado ao outro, sempre sem o moreno-acastanhado tirar seus olhos heterocromáticos de seu desenho. O Scion tentava replicar o que ele havia sonhado, mas estava falhando nisso. Várias e várias vezes, o Yagami mais novo tentava arrumar certos detalhes em seu desenho. Yue sempre começava com um rascunho, vários riscos que se interligavam e formavam algo. Desenhar era a única coisa que o tirava de seus pensamentos mortíferos.


Nada do que havia ali fazia sentido para o Scion. Um cenário escuro, tinha uma ou duas formas destacadas que ele não sabia se eram pessoas ou apenas borrões, mas acima delas havia algo maior, muito mais complexo de se continuar, ele podia até jurar que a Torre do Sauron havia se instaurado ali. Só que para ele, era muito mais orgânico do que um composto de pedra e metal. Como um vegetal comprido, largo e malvado, olhando para ele, ou melhor dizendo, para os dois que estavam no chão.


O garoto coçou a cabeça, bem ao topo bagunçando seus cabelos ainda mais.


Ficou tanto tempo ali querendo terminar isso que recusou até mesmo a sua janta, um ato muito difícil de se esperar dele, ainda mais quando podia apostar com quem quisesse que havia doces de sobremesa. Quando se tratava disso, ninguém o batia, Yue tinha um radar próprio para gostosuras, no entanto, ali estava ele tentando compreender com o que havia sonhado.


Poderia ser mais uma esquisitice do universo sombrio que via, ou apenas mais uma influência das coisas que lia ou assistia.


Sentia-se atraído por isso, tanto que não notou quando a porta de seu quarto abriu e ele estava sendo vigiado pelo homem da casa.


O ruivo franjudo ficou observando-o um bom tempo, vendo-o curvado sobre a mesa, rabiscando, tirando os pedaços de borrachas e o que mais ele podia remover da li para deixar o desenho mais visível. Pai e filho não tinham muita conversa entre eles. Ficar perto do Scion era diferente de estar perto da Siren. Lilith dava espaço para aproximação e Yue tinha uma montanha gigantesca que devia ser escalada por etapas, se não alguma coisa acontecia, e quem quer que estivesse tentando escala-la, era jogado para baixo, e um muro se erguia, tornando ainda mais difícil conseguir uma brecha para ter contato.


— Você está ocupado?


A voz imponente de Iori o fez deixar seu desenho e olhá-lo.


– Eu queria saber se está tudo bem, chamamos você e como não respondeu ninguém, vim ver se aconteceu algo, mas não quis incomodar.  — Iori estava encostado a parede, os braços cruzados, aquele jeito sério e com uma expressão dura em sua face.


— ... Eu não ouvi. — Disse o rapaz, piscando. Yue não havia ouvido mesmo. — Faz muito tempo?


— Bastante.


— Perdi muita coisa...?


— Muita.


— Oh...


Ele estreitou levemente os olhos, e depois estes caíram, dando-lhe um ar muito deprimido, mais ainda do que ele já tinha.


Iori olhou-o pelo seu único olho visível, e então se afastou da parede, se aproximando do garoto que era mais alto que ele. O Yagami mais velho deu uma olhada no que ele fazia, havia desenhos esquisitos, um mais estranho do que outro, tudo muito mais complicado do que era possível de se compreender, outros eram bem desenhados, só que o significado ficava longe de ser compreendido. Iori sabia que a cabeça de seu mais novo era uma confusão e que podiam deixá-lo louco sem o devido cuidado. Enquanto observava o que havia ali, o moreno deu passos apressados até um desenho em particular, uma mulher de cabelos negros, bem peculiar, o desenho mais simples e gostoso que ele tinha para ver, e então escondeu atrás do que estava na mesa.


Iori havia visto, mas não comentaria nada, por enquanto.


— Seus desenhos estão melhorando.


— Sim eu andei praticando.


— Eles têm algo de especial?


— Hu?


— Eles são algo especial?


— São só sonhos.


— Só?


— Sim. — Ele mentiu.


— Certo. Nós vamos nos deitar, mas a sua mãe deixou para você algumas coisas no forno e no micro-ondas, se sentir fome, já sabe.


— Tá bom.


— Boa noite.


— Certo.


O garoto o olhou sair e assim que o pai fechou a porta, inspirou fundo quase que de imediato e soltou o ar devagar, sentindo-se aliviado. Ele estava internamente pulando de felicidade, imaginava que o ruivo não tivesse dado uma olhada no que havia escondido. Iori havia visto, mas não mencionaria nada daquilo no momento, haveria uma hora melhor para fazer certas perguntas para o seu mais novo.


De qualquer forma, o pai vendo ou não, o Scion tinha uma bagunça e tanto para arrumar. A primeira coisa que fez foi organizar os desenhos novos em cima da mesa, depois desligou o seu Note, guardou tudo o que tinha de ser guardado, e finalmente foi comer algo.


A cozinha era o recinto que estava sempre sendo ocupado por algum integrante da família. Nem mesmo na madrugada se ouvia ela vazia, alguém sempre levantava de noite, ia beber água, fazer um lanche, mesmo que ele não soubesse quem exatamente era a pessoa que ficava zanzando durante essa hora. Yue já ouviu mais de uma vez passos, a geladeira abrindo, e até pratos, só que, por preguiça, ele se recusava a levantar da cama, só fazia isso se ouvia algum barulho fora do normal, aí sim o Scion se revelava.


Dentro do micro-ondas tinha um prato feito, o cheiro estava bom, viu pedaços de carne, cenoura, alguns legumes que fez torcer o nariz, mas outros componentes, como purê e mais alguma coisa que ele não reconheceu. Por curiosidade ele foi até o fogão e se abaixou, ascendendo a luz do mesmo para dar de cara com pães caseiros com frios. Sua boca se encheu de água.


Sua mãe, Coroline, sempre faz as refeições da casa, quando não estava viajando a trabalho, a mulher de madeixas onduladas e longas, passava um tempo na cozinha. Yue sempre ouviu Dean dizer que quando mais nova, a mãe dela, a mulher que a criou, a espanhola, preparava para eles em casa pratos bem diferentes do que ela normalmente via em outros lares. Como uma figura curiosa e um tanto gulosa, Coroline aprendeu cada coisa da cozinha e aonde quer que fosse, se um prato chamasse sua atenção, ela dava um jeito de prepará-lo em casa, trazendo mais opções além da típica comida inglesa que ela sabia preparar.


Isso tornava o dia a dia deles de certa forma rico, pois os mais novos ao menos gostavam de coisa temperada, que tivessem mais opções de gosto, mesmo que fosse um prato simples, como esses pãezinhos que não sobreviviam muito naquela casa.


Ele tirou a forma do que tinha queijo e presunto que estava na metade, e esquentou seu prato enquanto cortava dois pedaços generosos para si.


Yue aguardou sua janta ficar quente, e assim que o micro-ondas fez seu barulho, alertando-o de que tudo estava nos conformes, o Scion pegou um garfo no escorredor de louça e sentou-se para jantar.


Estava tarde, o silêncio era muito convidativo e gostoso. Yue estava gostando disso, mas era de se notar uma certa tristeza no seu olhar, ele estava mais acostumado a ter a mesa cheia e muitas vozes falando ao mesmo tempo, tudo bem que a maioria das coisas que eram faladas não lhe interessava, mas ele gostava de ver a mesa cheia, não de comida, mas com todas as suas irmãs e a sua mãe falando, e o velho homem da casa (Iori), sentado em seu canto da mesa, apenas olhando o que aconteceu, e cuidando dos seus próprios pensamentos antes de alguém o arrastar para a brincadeira da mesa.


O rapaz comeu devagar, pensando novamente na feição da menina do retrato. Tão bonita, parecia estar cheia de vida. Sempre que ele pensava nisso, o rapaz alto ficava a pensar sobre os pais dela, a família dela, tudo o mais. Ele sentiu algo estranho dentro de si, era incomodo com a lembrança, ou isso era uma coisa a mais que ele, Yue, não conhecia?


— Hum.... — Ele resmungou e então devorou um pedaço de seu pão.


Depois do jantar solitário, o rapaz limpou a sua sujeira, juntou a louça com as outras e voltou para o quarto, em passos curtos e arrastados. O rapaz esticou as mãos para empurrar a porta do quarto, arrastou-a sem fazer barulho, iria pegar algumas peças de roupa e subir para um banho, até isso o rapaz havia se esquecido. Ele mexeu na cômoda, errou umas gavetas, pegou uma calça de um pijama, uma regata qualquer, passou a mão numa cueca e saiu novamente, andando como um gato pela casa, sem fazer barulho.


Assim que colocou os pés no andar de cima, ele ouvia barulhos no quarto de Rose, que indicava que ela estava o arrumando. O recinto maior, que costumava ser uma sala de música do antigo dono e agora era quarto da dupla dinâmica, Lilith e Alice, também tinha movimento, ele podia apostar todo o dinheiro que tinha no seu cofrinho que as duas estavam assistindo Netflix, e Carol provavelmente, estava no dela namorando Filia pelo telefone. Ele passou pelo corredor da ala feminina, e foi tomar seu banho.


Ele tirou as vestes e olhou-se no espelho, notando algumas manchas roxas pelas suas costas. Ultimamente várias delas andavam aparecendo pelo seu corpo, não incomodavam ele, Yue já cutucou várias vezes, e nada acontecia. O mesmo decidiu não contar aos pais ou a ninguém sobre isso, podia ser muito bem ele batendo em algum lugar, já que era inquieto em seus sonhos.


O Scion bocejou, girou o registro acima da banheira para ter acesso ao chuveiro, e se enfiou debaixo da água fria. Apoiou as mãos no ladrilho esbranquiçado e foi sentindo cada parte de seu corpo relaxando, o deixando bem confortável com a sua situação.


Devagar ele ia se esquecendo do susto que levou de Alice, da reportagem que viu, dos cartazes espalhados pelos postes da cidade, ao menos nos cantos que ele viu. O garoto abaixou a cabeça, abriu bem os dedos de sua mão e algo estranho lhe aconteceu.


O chão da banheira começou a ser pequenas manchas vermelhas, como gotinhas jogadas de um conta gotas qualquer. O Scion inclinou a cabeça para o seu lado direito, confuso com aquilo, estava alucinado de novo? Novamente, por curiosidade, ele se abaixou e levou a mão a parte molhada e que tinha essas gotas avermelhadas. Passou a ponta dos dedos por ali, e as viu manchadas com o vermelho.


Franziu o cenho, levou a mão limpa ao próprio rosto, depois olhou-a. Estava manchada de vermelho.


Instintivamente Yue se levantou, saiu da banheira e olhou para si mesmo pelo espelho redondo e grande que tinha acima da bancada. Seu nariz estava sangrando. E não era apenas pequenas gotas como costumava ser. Sangue saia da li como lágrimas de um choro estridente escorriam de olhos vermelhos e inchados. Estranhando e começando a se sentir assustado, Yue abriu a torneira da pia, juntou um punhado de água com as duas mãos juntas e tentou lavar a face.


Sua visão foi ficando turva, quanto mais tentava se livrar do sangue, mais difícil de manter-se com um olhar fixo ficava, o menor desvio do líquido frio o fazia ver um chão que ia se movendo, devagar, mas se movia.


O rapaz fechou a torneia com força, travando-a e foi até a prateleira, pegando uma tolha para esconder a parte de baixo de seu corpo nu. Iria correr para o andar debaixo e encontrar um dos frascos com o seu medicamento. Encerrou a água incessante que caia na banheira e já sairia dali molhado mesmo, até que subitamente ele parou, sua visão ficando totalmente perdida, enxergando nada além do escuro.





LUGAR NENHUM.


A escuridão era afastada por um pontilhado esbranquiçado. O que parecia começar a ser a velha luta da escuridão contra a luz transformou-se em uma lua crescente que iluminava um caminho diferente. Devagar o cenário se pintava, moldava-se novas alas e demorou para que ele entendesse onde estava.


Era um lugar cheio de árvores, e caminhos cobertos por folhas caídas. Cheiro de mato molhado, e a sua frente uma escadaria circular, com muros de pedras e que tinha sua estrutura moldada por um morro ou outra coisa que ele não sabia explicar, uma figura escura o olhava lá de cima. A presença o fez erguer a sua cabeça, e encarar olhos de uma cor pura, um azul profundo que não se perdia no claro ou no escuro, uma tonalidade estranha para qualquer um ter como par de olhos, tão estranho quanto o vermelho ou violeta.


Demorou também para este que olhava para cima notar que toda as coisas a sua volta estavam mais altas do que eram antes.


Yue reconheceu o cenário, mas fazia muito tempo, mas muito mesmo que ele não colocava os pés neste lugar.


A primeira coisa que ele fez, não foi ir em direção as árvores e nem mesmo andar até a escada. Primeiro ele olhou as suas mãos, que estavam pequenas, do tamanho de uma criança de nove anos. O Scion moveu os dedinhos e pressionou o rosto, tirando a dúvida se ele havia ficado pequeno de novo. Torceu o nariz, franziu o cenho ficando notavelmente bravo por essa mudança.


— Rrrruuurgh! — Ele resmungou e foi em direção a escada, subindo com as suas novas perninhas, todos os degraus que haviam ali e com a velocidade que podia. Se fosse grande comprido como antes, iria de dois em dois, ou até mais atrás dos olhos azuis.


— Levou muito tempo para subir. — A voz praticamente o cumprimentava quando este chegou no ultimo degrau, ofegante, por todo o esforço que fez.


Quem é que tem degraus tão altos assim?! O garoto questionou a situação, mas a reposta estava a sua frente, tendo a altura que ele tinha, a sua face amadurecida, os cabelos longos que ele havia cortado, mas numa cor mais escura, mesclado a um branco neve, com traços azulados tão delicados que a palidez dos fios não deixava enxergá-lo, e uma pele muito clara, tanto quanto a dele, mas quente, tendo até mesmo um aspecto mais metalizado, pelo sangue que corria no corpo dele, o corpo do Scion.


— Muito tempo não?


— Prometeu que não ia fazer mais isso!


A vozinha respondeu de volta a figura que roubava a sua aparência e o tornava um menino. Yue bateu o pezinho direito, usava as mesmas roupas que no dia do seu acidente, um conjunto entre preto e vermelho, roupas largas e confortáveis como ele gostava de usar, pronto para sair e brincar pelo mundo, como ele estava naquele tempo, antes de alguém lhe dar um tiro no olho e o deixar nessa perrengue.


— Eu não te chamei aqui, veio por que quis.


— Tá brincando comigo né?!


— Nosso acordo é claro como a água, eu não faço nada que não queira. Não ficou com autonomia de tudo?


— E como é que eu vim parar aqui?!


— Uma boa pergunta, cuja a resposta você não vai querer ouvir. — E com um sorriso, ele respondeu o mais novo.


O garotinho olhou feio, levantou a alça de sua regata vermelha com manchas verdes, e ajeitou a bermuda preta, que ameaçava a cair a qualquer momento. Assim que amarrou o cadarço branco de sua bermuda, deixando-a firme, ele deu passos largos em direção a criatura que estava sentado em um banco de pedra o encarando, ele sabia quem era, o outro também o conhecia, era difícil que duas metades não soubessem quem era quem.


— Siwang... — Ele começou baixinho, mas a raiva não deixava o tom de voz miúdo que ele tinha. Era quase irônico ver, que alguém de voz tão trovejante, tivesse anteriormente uma vozinha que contribuía a fofura.


Yue tinha credibilidade nenhuma. Só fez com que o outro risse de sua face.


A história desses dois era complicada. Siwang era o seu antigo eu, existiu há muito tempo, e como programado no poço das almas, ele voltaria como Scion, este seria Yue. Por algum motivo mal contado, quando estava começando a aproveitar o que seria o inicio de sua infância, o garoto ficou no lugar errado, na hora errada e foi vitimado por isso.


A ocasião que envolvia sua irmã mais velha Lilith, e que seria a próxima vítima, fez com que Yue não aceitasse a morte. O desejo de viver, e a dor de estar morrendo, fizeram ele entrar em choque e resultou num fator alarmante que foi rachando parte de seu ser. A outra metade, Siwäng, que despertara, enrolou o que sobrou do garoto e por muito tempo, ficou em seu lugar, até que os dois foram postos na frente de Saiwällö, a Tecelã das Almas , uma das criaturas que faziam parte da criação, quando Dean descobriu que a ferida que eles tinham estavam resultando em um corpo que estava começando a morrer, por não sustentar Siwang sem a outra metade.


O que a mãe deu para que isso acontecesse nenhum dos dois sabia. Deuses não faziam nada de graça, criaturas mais antigas que eles, como essa muito menos, mas como parte da barganha, a parte da Tecelã foi feita. Ela restaurou a metade que estava destroçada pelo despertar precoce, resultante de medo e raiva, porém, a personalidade mais antiga, continuou ali residindo, e na frente daquele ser que o garoto mal podia explicar como era, tanto ele quanto Siwang tinha um certo acordo.


O antigo não faria nada, e deixaria que o mais novo vivesse, mesmo que muito não pudesse ser revertido por eles.


Mas se a palavra estava de pé, como ele estava ali?


— É sério, o que você fez?


— Nada. Sabe que eu não fiz nada.


— Humph. — Ele ficou do lado do maior, subiu no banco e se sentou ainda embravecido com a situação que ele se encontrava. — Isso não é normal.


— Não mesmo.


— Não sabe o que aconteceu?


— Tenho uma teoria.


— Que teoria?


— Eu vejo o que acontece com você, sei o que se passa. Está sentindo várias coisas ultimamente, uma mais complicada do que a outra, e acho que você fez algo para danar conosco pequenino. Está aqui por que precisa estar, pode considerar isso uma benção, enquanto estiver aqui a consciência do que está lá fora ainda não vai te atingir. Por enquanto. Aqui é meu lugar, e só está aqui, por que sabe que é seguro estar.


— Eu sai sem saber?


— Óbvio. Eu sou quem sabe e domina as coisas. Você ainda está lidando com o seu tempo e as suas mudanças.


— O que acontece não te assusta?


— Por que deveria? Você esqueceu de quem eu era?


O menino ficou quieto. Era impossível para ele esquecer, quem Siwang foi.


Outrora uma criatura linda, Dracólico em aparência. Nascido para ser sucessor de Tefithe que cuidava da roda do destino e o poço das almas, em um tempo longínquo, muito distante para se quer ter precisão exata de sua história. Antes mesmo de se quer sair dos aposentos de seu nascimento, ele foi retirado e jogado para além da Terra dos Mortos, por inveja e medo de uma perda de posição que Siwang jamais viu, ou pode compreender bem antes de ser descartado como pedaço de lixo não reciclável.


O ser foi encontrado pelo o Eterno, a Morte, ainda com um suspiro de vida. Ele cresceu forte com o tempo, tanto que seu corpo podia dar várias voltas por Gaia. Siwang cresceu ressentido, e não tardou muito que dos anos que vieram a ele, a verdade caísse sobre ele, um evento que se tornou o fim de muita coisa. Ele jurou ganhar forçar o suficiente para vingar-se de tudo oque lhe foi tirado.


Tornou-se tirano, destrutivo. Seus terrores lhe deram nomes e fama muito além de sua própria realidade. Adquiriu seguidores fieis. Até mesmo as criaturas do Abismo, um lugar tão inóspito para se aguardar alguma coisa, pelo seu ambiente hostil para qualquer criatura decidiu o seguir, os Obscuriais de uma realidade morta e sem vida pulsante fazia parte de sua própria empreitada.


Mundo pós mundos ele dominava, destruía, ou aumentava o seu repertório. Sua revolta chamou atenção de muitas criaturas, mas o ser que passou a ser chamado de O Dragão Eterno, tornou-se forte demais para ser destruído, terrível para qualquer um ir contra sem se deixar ser engolido pelo terror, e cruel demais para até a criatura mais límpida e angelical, não ser despida de sua graça e seus ossos serem empalados e mostrados em frente a uma estrutura antiga onde ele fazia de seu lar.


A lenda dizia que Siwang só foi derrotado por Gaia, que conseguiu acalmar a Besta, tanto que ao conseguir a sua justiça, e vingar-se de sua existência arrojada, é dito pelos mais antigos, que o Dragão se entregou a ela e estava dormente até agora, ao menos, assim as lendas diziam.


— Não.


— Hum. — Ele olhou de canto o infante e revirou os olhos. — Medo não é um coisa ruim, é essencial. É o catalista para deixa-lo fraco, fazendo-o se acovardar, ou será o fator para fazê-lo ser uma pessoa mais forte. De uma forma ou de outra, medo é o que torna a vida intrigante, ou chata, medíocre. Isso tudo depende de cada um, mas guarde as minhas palavras de batalhas perdidas e, vencidas. Medo pode ser enfrentado, vencido, assim como qualquer inimigo pode ser derrotado.


— Hu? — Yue olhou-o confuso.


— Seu distúrbio é sobre o assassino. Seu incomodo é o que está vendo. Sabe o que sente, mas não quer aceitar. Está confundindo algumas sensações com outras, isso atrapalha, e atrapalha ainda mais aqueles comprimidos. Deveria estar aflorando, e como nada disso está acontecendo pela exuberante quantidade de medicamento que você toma, a natureza está forçando a sair aquilo que você não queria deixar tão aparente.


— Eu fiz tudo direitinho.


— Pode até ser, mas o corpo se acostuma. Tanto que seus sonhos estão te levando a lugares que não deveria, está ouvindo coisas que não tinha que ouvir, e vendo o que não é necessário se ver agora.


— Estou aqui por que estou com medo?


— Está aqui por que está sofrendo.


— As coisas que estão acontecendo, me incomodam.


— Tem que incomodar.


— Eu não gosto disso.


— Não deve gostar.


— Eu acho que algo está me seguindo.


— E está.


— Você tem alguma coisa que sirva para me animar?


Com a face mais emburrada que ele conseguiu dar ao outro, Siwang pendeu a sobrancelha direta, ao mesmo tempo que o menino e lhe disse, sem muito rodeio:


— Quando sair daqui você vai sofrer. Agora neste momento o corpo sofre. Acho que está mais do que na hora de jogar aquilo que usa fora. Não vai servir para nada, o que nos aguarda é inevitável. E eu recomendaria muito, que você seguisse o que eu estou dizendo. Sonhos nem sempre são apenas sonhos.


Quando a última frase atingiu os pequenos ouvidos dele, Yue abaixou as pálpebras, ficando com a face preocupada. Lembrou-se dos desenhos que fez, das duas figuras que viu, e de uma cena a anos atrás, quando ele disse a Lilith, que viu os dois caminhando em um deserto, vendo pontas e pedaços de prédios que um dia já forma uma cidade. Ele teve a mesma experiência uma vez, bem antes de todas as coisas ruins que lhe aconteceu. O menino já tinha o hábito de rabiscar várias coisas como seus desenhos, e um dos eventos, ironicamente, foi muito similar a o seu próprio acidente. A semelhança era tão aterradora, que Dean queimou o desenho, para a que a memória não despertasse mais eventos desagradáveis a ele.


— Sonhos... Não são só sonhos...? — Dizendo isso, seu corpinho bateu no encosto do assento, e suas orbes ficaram vermelhas, cobrindo o branco de seus olhos e toda a coloração de cada um deles.



CASA DOS YAGAMI. UMA E MEIA DA MANHÃ.


Gritos ecoavam pelo recinto, pessoas falavam, ele podia de certa forma ouvir os ecos que lhe davam essa ideia. Alguma coisa estava errada. Seu peito doía, seu corpo inteiro estava rígido, os músculos estavam se contraindo. Tudo em Yue Yagami estava se quebrando. O sangue escorria pelo seu nariz, pendia pelos cantos de sua boca, manchavam o solo de seu quarto. Mãos fortes o seguravam, estavam mantendo-o naquela posição, onde ele não podia se sufocar com a baba e nem o líquido vermelho que escapulia de si.


Uma dor excruciante bateu no seu coração, fazendo as batidas rápidas irem se tornando lentas. Seus olhos reviraram, o branco de cada um voltados a um vermelho, parte pelas lágrimas conscientes, parte pelas veias que ameaçavam a explodir e acabar de vez com a sua visão por ali.


As coisas aconteceram mais rápido do que parecia. Seu passeio foi uma forma de misericórdia de sua outra parte de não deixar o choque inicial acabar de vez com a sua consciência. Ao cair no chão, o barulho chamou atenção de Alice que havia saído para mais um copo de leite quente, e achado estranho ver a porta do banheiro semiaberta, até que um grito estridente chamou sua atenção, a fazendo ir ver quem era e o que acontecia. De imediato ela bateu na porta do quarto dos pais, do outro lado do corredor, chamando por ajuda para o maior.


Iori foi quem saiu primeiro, tendo que chamar a Éther quando a situação provou-se ser difícil demais para apenas um lidar, e era ele que estava segurando Yue enquanto Dean tentava estabilizá-lo. A morena havia criado um furo em sua garganta, usando um objeto afiado e colocando o corpo de uma caneta vazia para tentar ajudar ele a respirar melhor, o que funcionou por um tempo. Travar o garoto no chão era uma tarefa árdua e complicada. O Scion era forte e o maior receio era a falta de controle dele. Quando pareceu que ele respirava um pouco melhor, ela improvisou com algumas toalhas, fazendo pressão, e chamou Carol aos berros para ela manter aquilo firme enquanto foi buscar soluções mais eficazes.


Em casos extremos, sedativo era obrigatório a ser aplicado nele. Dean deveria ter feito isso de primeira, mas às vezes, ele voltava a si mais sedo, e dependendo do estado, só provocaria uma ação pior vinda do Scion. Não era a primeira vez que isso acontecia, e pelo visto não parecia que essa ia ser a última. Uma agulha mais sofisticada e que aguentasse a estranheza do sangue dele, que já conseguiu danificar outros componentes enquanto tentava tratar dele. A dosagem era para um cavalo e mesmo assim era capaz de não funcionar, o estado era diferente do que Dean já havia visto, e ela aguardava que ele aguentasse ao menos mais alguns segundos para terminar a aplicação.


— Continue segurando-o assim. Se tiver que ferir ele então machuque, Yue tem que ficar imóvel.


— Aqui tá calmo. — Falou a menina, mantendo a toalha pressionada em sua garganta.


— Tem alguma coisa a mais que possa ser feita?


— Não, não tem. — A seriedade no tom da mulher de madeixas onduladas trouxe uma triste realidade a situação familiar. Não havia o que fazer, ela já fez isso várias vezes. Se ele engasgasse ela aplicava uma manobra para que ele não se sufocasse, se a agitação começasse, tentava o sedativo. O pior cenário seria se não tivesse opção, o que sinceramente, Dean já estava começando a enxergar como sendo este.


Ela passou os olhos pelo banheiro, manchado de vermelhos, com vômitos cheios de pedaços de carne e dele mesmo que foram renegados pelo seu corpo. A Éther não precisava que ninguém lhe dissesse que ele estava mudando. A morena-acastanhada inspirou fundo e removeu a agulha da pele dele e ajudou Iori a garantir a firmeza. Se Yue dormisse ali e passasse o resto da noite imóvel já seria uma vitória.


A mãe abaixou a cabeça enquanto fechava os dedos sobre o braço dele. Podia fazer algo, mas corria o risco de ter alguma negatividade do lado dele, sobre qualquer habilidade dela, e no estado que as coisas estavam, fazer isso era burrice. Mais uma vez ela passou os olhos pelo banheiro judiado, e notou que em meio a toda aquela bagunça, a calda dele estava jogada, cortada de qualquer jeito, uma reação de cólera e perde de controle.


— Mamãe?


— Vai ficar bem. Ele logo vai ficar quieto. Você pode ir e continue não deixando suas irmãs olharem aqui. Feche a porta.


— Eu e sua mãe ficaremos aqui, se precisarmos de algo, chamamos.


Iori ficou a maioria do tempo em silêncio. Ele mais observava e auxiliava do que podia fazer algo. A força bruta já era uma ajudante inquestionável, mas o fato de saber que não tinha nada a ser feito era desagradável. O ruivo não podia imaginar o que o seu filho mais novo passava, não tinha como se colocar em seu lugar, o sofrimento era palpável e chegava a ser angustiante de olhar. Por um momento o garoto parecia vivo e no outro, ele se quer aparentava respirar.


Os músculos tensos sediam com o passar dos minutos, e logo ele não tardava a descansar, Iori soltou-se e ficou ao seu lado sentado, enquanto a mãe do outro lado, olhava a cria mais nova com certa desolação.


Tinha algo pior do que ter a sensação de poder fazer de tudo, e ser completamente inútil em situações em que tal força, importava?


O relógio continuou seu trajeto. Os ponteiros andaram sem dar uma trégua a ninguém, e quanto menos se esperava, uma nova notícia se espelhava pela cidade. Dessa vez, uma vítima do tal assassino foi achada, mas está não estava morta.

Os noticiários correram como loucos, cada um tentando encontrar uma brecha no Hospital da cidade para ver o tal sobrevivente. As autoridades os impediam, um depoimento era necessário para começar uma busca mais ampla, com alguma direção que os levasse a esse louco desenfreado, mas o jornal de um canal não muito cogitado na cidade, soltou a notícia de que o sobrevivente se encontrado em um estado duvidoso. A jornalista que Yue havia visto mais cedo, dizia a todos que a assistiam, que a vítima, se encontrava em estado mental perturbado.



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Dimensional Hunt. Empty Act. V - Cross Roads

Mensagem  Convidado Dom Jul 14, 2019 4:17 pm





Mais da metade da cidade já estava adormecida naquela hora, entretanto a noite seria muito mais longa do que o esperado. A notícia de mais um assassinato apresentada na TV também foi repassada nas rádios e pelas redes sociais rapidamente, os repórteres de plantão se dividiam entre mandar informações desde o local do crime quanto no hospital onde o único sobrevivente estava sob custódia da polícia e passando por assistência médica. Um cordão foi formado na entrada do prédio pela polícia para evitar que a mídia entrasse e importunasse as investigações, assim como manter em segurança a integridade do que poderia ser a primeira testemunha daquela série de carnificina que rondava 2nd.

Para os plantonistas, o que já era um pesadelo se tornou ainda pior. Bastava olhar para o setor de emergência e pronto atendimento os quais recebiam quantidades significativas de pessoas todos os dias, tanto pelo dia quanto pela noite; Desde a uma criança febril até casos de atropelamento e pessoas baleadas devido ao tráfico de drogas -  2nd é uma cidade grande como outra qualquer e possui os mesmos problemas triviais. . Lidar com outro ser humano nunca foi um mar de rosas, principalmente quando este estava agonizando de dor ou sob um estresse muito grande, com policiais circulando pelos corredores indo e vindo não trazia nenhum pouco de segurança, em verdade a sensação caía no completo oposto:Parecia mais que a qualquer momento alguém ou algo entraria ali e um tiroteio se iniciaria. Uma ansiedade silenciosa e torturadora contaminava a todos que estavam ali dentro a cada instante.

Um aglomerado de equipes de filmagem estava tomando toda a fachada do lugar, uns em transmissão ao vivo apenas tendo o hospital como plano de fundo, outros ainda tentavam conseguir alguma migalha de informação dos policiais que faziam o isolamento, e mais alguns tentando incitar algum tipo de sensacionalismo ou problemática com os agentes de segurança, cobrando respostas precisas e um retorno direto por parte dos envolvidos na investigação que já tinha um tempo considerável sem respostas definidas. As ambulâncias que chegavam à entrada passavam pelo agrupamento de pessoas com dificuldade e eram exatamente esses novos elementos na cena que causavam alvoroço, tentativas de entrar no prédio e mais confusão.

Repentinamente ouviu-se o som de um carro em velocidade nos arredores, o pé do motorista estava tão enfiado no assoalho do veículo que o motor estava gritando.  Ao fazer uma curva fechada demais para entrar no lugar, os pneus fritaram em um barulho específico o suficiente para alarmar a todos. Após chegar no pátio de estacionamento o automóvel parecia ter perdido o controle e fez um movimento de rodopiar, agora na direção oposta a curva feita anteriormente, parando bruscamente com todos os pneus travados e cortando duas vagas. As equipes estavam num misto de paralisia com adrenalina, ao passo que se organizavam para algo. O que? Ninguém sabia ao certo. Tinham de estar prontos para fugir se fosse algum louco ou ir para cima se fosse alguém relevante. O carro mal tinha parado e o som do freio de mão sendo puxado foi ouvido em sequência a trava da porta liberando a passagem: Um homem de cabelo liso e grisalho saiu de dentro, vestindo um sobretudo e alguma roupa formal por baixo com um distintivo preso na cintura com uma feição de fúria. Era um alvo perfeito. O pessoal foi como uma onda sob a areia em direção a ele, enquanto o recém-chegado dava passadas largas e firmes o suficiente para demonstrar a sua pressa. Seu comportamento a seguir foi extremamente inusitado: A mão esquerda tirou o distintivo da cintura e levantou para mostrar, não aos repórteres, mas aos guardas de plantão atrás, enquanto a mão direita sacou uma pistola de dentro do sobretudo e o mesmo executou dois disparos para cima.

[Homem]: Saiam da porra do caminho!

Aquilo congelou o pessoal com uma piscina inteira de água fria, os ânimos repentinamente sumiram e eles abriram espaço. Os policiais atrás já haviam sacado as armas tão rápido quanto o homem desconhecido, mas o escudo da polícia de 2nd na mão do cara fez eles pensarem duas vezes antes de disparar contra. Por estarem na escadaria, conseguiam ter uma visão de cima do lugar. O ato de se identificar primeiro os foi importante, e ainda que incrédulos pelo que viram, o ato de atirar para cima era um recurso tático comum da polícia, os famosos “tiro de advertência”, mesmo que o mecanismo tenha sido utilizado de maneira bem deturpada naquela ocasião, visto que o homem utilizou-a para deixar bem claro que a intenção dele era passar sem nenhum obstáculo na frente. Ao passo que a distância entre o rapaz e os guardas foi encurtando, um deles o reconheceu fazendo um sinal com a mão para o parceiro baixar a arma enquanto ele próprio voltava seu revólver para o coldre.

[Policial 1]: Santo Deus! Quer me matar do coração, Tawson?

Todavia ele não teve resposta de retorno, tampouco os olhos do agente se direcionaram a ele. Como uma seta, ele passou entre os dois tiras e enfiou a mão na porta do hospital, entrando com tudo, deixando uma confusão ainda maior lá fora.



As pessoas na sala de recepção estavam olhando para a entrada congeladas entre o acalmar-se ou aderir a um pânico repentino até que vislumbraram o homem entrando de vez no salão. Os agentes de sentinela ficaram em alerta ao ouvirem os disparos la fora, mas ao ver o colega de serviço não entenderam do que se tratava, assim como não houve nenhum sinal de luta ou sequer um sinal de rádio que indicasse perigo, ficaram sem saber como agir direito, enquanto que as perguntas no canal de escuta rolavam adoidadas enquanto Tawson se dirigia diretamente a um desses policiais com o distintivo a mostra, num estado de nervos claramente alterado.

[Tawson]: Sou o investigador Tawson da 16º Delegacia de 2nd, sou o encarregado sobre a investigação dos assassinatos na cidade, onde está o sobrevivente?!

[Policial 2]: Não-não estou autorizado a dizer, senhor. Preciso checar com o pessoal lá em cima!

[Tawson]: Olha, não fode meu trabalho para eu não foder com o seu! Quer estragar sua carreira na corporação? Seu superior vai ficar com o ovo doendo de tanto que vão encher o saco dele por você estar me fazendo perder tempo!

O rádio não parava de tocar e as vozes em meio a estática continuavam agitadas, e naquele impasse Tawson pegou o microfone do rádio do policial e ele mesmo entrou em contato com os outros soldados que estavam de guarda.

[Tawson]: Está tudo bem aqui na entrada, câmbio! Onde se encontra a equipe responsável pelo sobrevivente agora?

Após uns chiados, alguém deu com a língua nos dentes e respondeu sem muito esforço.

[Policial 3]: Aqui no primeiro andar está tudo bem também! A detetive e os outros agentes estão no terceiro andar, na ala 3 com os médicos e a testemunha. O que houve? Câmbio!

A sentença “A detetive” fez o rapaz grisalho arregalar os olhos castanhos que tinha, que informação era aquela? Soltou o rádio o deixando pendurado na cintura do outro camarada e seguiu pelo corredor do hospital quase como uma locomotiva, forçando os outros a saírem do seu trajeto para não serem empurrados. Elevador? Subiu o lance de escadas de dois em dois degraus e quase não passou um andar a mais.


Abrindo a porta de emergência de maneira brusca, o rapaz de óculos quadrados olhando para todas direções buscando referências do lugar que foi passado. Num cruzamento de de corredores, ele avistou 3 homens atrás uma mulher que estava parada de frente a um médico e uma enfermeira na porta de um dos quartos de internação. Taw apertou os olhos e reconheceu as figuras mais a diante, o som dos seus passos ecoou pelo corredor em meio a seu galope frenético,

[Tawson]: MORY! EU SABIA QUE TINHA SEU DEDO ESCROTO NISSO!

Assim que a presença dele foi notada alguém exclamou “Droga! É o Tawson!”. Dois dos três acompanhantes da detetive se adiantaram para barrar o investigador, que certamente teria voado no pescoço dela sem hesitação alguma. A mulher esboçava um sorriso cínico e venenoso que se mordesse a própria língua poderia morrer, mas sua sobrancelha denunciava em meio a espasmos pequenos que não esperava vê-lo ali. Os agentes tentavam imobilizar o agente a qualquer custo, enquanto a resposta dela escorreu pela boca.

[Mory]: Calma, colega! Que modos são esses, estamos num hospital!

[Tawson]: Corta o papo furado, sua maldita! Você sabe que eu estou no comando desse caso! Qualquer novidade vocês tem obrigação de me passar e não eu descobrir quase 1h depois pela TV. O capitão vai cortar sua cabeça fora! - Disse olhando para os outros colegas de serviço que ainda tentavam contê-lo.

[Mory]: O capitão? Ele sabe. Na verdade eu conversei com ele hoje e por isso você não foi informado. Você tem trabalhado muito, é  verdade, mas não teve nenhum resultado positivo nessas semanas. Ele até tentou passar o caso para mim, mas eu achei melhor nós dois como parceiros no caso, a fim de diminuir o peso sob você. Te ajudar me deixaria bem satisfeita. - Ao mesmo tempo que havia sarcasmo, tinha uma pitada de desdém. O fato era que ela queria dizer muito o oposto, havia tentado tirar o caso do Tawson, mas o capitão preferiu dividir a tarefa.O cabelo curto nos ombros e lisos, as roupas e maquiagem preta nos olhos e lábios, a calça e botas de couro, ela realmente parecia uma vilãzinha.

[Lock]: Você tinha me dito que já havia avisado a ele, Mory! - Disse o homem atrás da morena.

[Mory]: Eu não quis incomodá-lo e nem que vocês ficassem me enchendo com isso. Já que sou parceira eu também posso assumir a frente das investigações e fazer um relatório competente. O Tawson ja trabalhou muito esses dias, merece um descanso, visto que ele não é mais o mesmo depois daquele dia… - Tanto Lock quanto os outros dois homens a encararam com um ar de espanto, enquanto Taw congelou -... Oh! Desculpe! Eu não queria mencionar… Você sabe, escapou.

[Lock]: Sempre soube que vocês não se bicavam, mas isso foi muito imoral e antiético de sua parte, Mory. Pode ter certeza que vai chegar aos ouvidos do capitão…

[Mory]: E o que? Vão fazer queixa igual a crianças? Se eu for suspensa, certamente ele também vai ser, porque devido a esse temperamento estourado dele não tenho dúvida de quem foi que efetuou os disparos lá fora pra chamar a atenção. Só preciso perguntar a uma ou duas pessoas la embaixo o que ouve.. ou… - Disse ela se aproximando de uma janela que havia de um corredor, olhando para baixo e vendo os carros das emissoras. -... Talvez eu nem precise fazer nada para tal. Agora podem me deixar trabalhar?

O médico pigarreou, com receio de entrar na discussão, mas precisava reforçar algo.

[Médico]: Como eu disse, o paciente não pode receber visitas agora. Ele chegou aqui em estado de choque, tivemos que sedá-lo. Assim que ele acordar, ele primeiro terá que ter um aval da equipe médica para só depois vocês poderem interrogá-lo. São as diretrizes do hospital para resguardar as pessoas internadas aqui.

Ela não teria vitória naquela hora e até a postura dos outros rapazes mudou diante do comportamento da mulher, deixando no ar que estavam mais inclinados ao Tawson. Ela manteve o sorriso, embora corrida de raiva, pegando um cartão dentro do bolso e entregando ao médico.


[Mory]: Quando ele acordar e fizerem tudo que tiverem que fazer, me avisem. Aqui não tem mais nada o que fazer, irei resolver outras coisas. - Disse caminhando pelo lado oposto do corredor, passando pelos colegas, piscando para o grisalho. - Até mais ver, Tawson.

O investigador ainda fez mais uma menção de avançar sobre ela, mas agarraram-no pela roupa. Lock parou do lado dele, o segurando pelo sobretudo.

[Lock]: Fica frio, fica frio! Não piora as coisas. O que tu não precisa agora é de uma suspensão!...- Aguardou uns instantes até que o agente se acalmou e ao passo que a adrenalina foi baixando, o corpo dele enfraqueceu e ele se sentou no banco no corredor bem suado. Lock era forte, um loiro de cabelo espetado, porém mais novo que Taw. Aguardou uns minutos até os ânimos acalmarem para retomar a conversa.

[Lock]: Foi tu que disparou la fora? - Tawson acenou positivamente com a cabeça apos umas ofegadas e ao passar a mão na testa para tirar o suor, enquanto olhava para o teto. - Merda… Quem viu?

[Tawson]: Eu atirei para o alto, queria tirar uns repórteres que estão na frente do prédio, eles vieram pra cima de mim, eu não ia conseguir passar se fosse “melosinho”…

[Lock]: Isso vai dar um problema grande. Esse seu temperamento ainda vai te matar….

[Tawson]: Tsc! Nem vem com isso. Ela acabou com meu serviço. Eu deveria ter sido avisado na hora que acharam os corpos na floresta! Fotos e evidências fora de contexto não ajudam muito comparado a estar na cena! Se o cara não tivesse sedado ela ia pegar um testemunho e tomar o crédito para ela e tentaria me derrubar da investigação com isso!

[Lock]: Ela não te avisou? Desculpe por isso, mas fomos convocados de última hora por ela própria. Mory quem entrou em contato comigo quando receberam o chamado. Provavelmente o capitão achou que ela não faria a gafe de te deixar de fora… E eu sinceramente achei que você estava ciente, já que o caso é seu. A ganancia deve ter derretido o cérebro dela

Ficaram em silêncio por alguns minutos pensando enquanto o hospital continuava com a sua dinâmica. Repentinamente o grisalho levantou em um pulo, seguindo as pressas pelo corredor deixando o outro rapaz sem entender direito a súbita retomada de energia, seguindo-o logo atrás.

[Lock]: Hey, Hey! O que vai fazer? Onde está indo?

[Tawson]: Vou na delegacia, vou falar com o capitão agora!

[Lock]: Não é a melhor hora! Calma! Deixa isso para mais tarde, a imprensa ta comendo nosso figado por que não demos um parecer claro sobre os assassinatos, o velho também tá contra a parede.

[Tawson]: No caso, eu não estou mostrando resultado!

[Lock]: Não disse isso! Não pegou um caso fácil, e todos nós que estamos envolvidos estamos tão angustiados com resposta quanto você!

[Tawson]: É por isso que não posso parar, não posso perder tempo!

Já estavam perto do corredor que dava para recepção principal, no andar inferior, Lock fez um sinal com a cabeça para o rapaz indicando um caminho que dava para os fundos do hospital.

[Lock]: Se formos pela frente os repórteres vão te devorar e não vai ser nada bom, o pessoal toma conta deles, eu te levo pra delegacia no meu carro, depois tu pega o seu na delegacia, vou pedir para um dos rapazes levar lá pro pátio.


Após deixarem a chave do carro com um oficial que estava ajudando a reforçar a segurança no lugar. Com o loiro no volante, os dois estavam passando pelas ruas de 2nd sem pressa. Taw seguia com o cotovelo apoiado na janela do carro enquanto a mão repousava sobre a boca, escondendo a barba mal feita. Os olhos fundos e a pele mais clara que o normal davam indícios de má alimentação e insônia. Os dois eram parceiros de serviço, não podiam se considerar melhores amigos, mas todas as vezes que precisaram trabalhar juntos, fizeram trabalhos muito bem feitos em seu departamento. Ao parar num sinal vermelho, Lock olhou para o lado de fora da sua janela, parecia desconcertado com algo e estava criando coragem para falar, não era do tipo que gostava de invadir a privacidade das pessoas, mas em situações difíceis, tomava postura mais protetora para com seus colegas, talvez um hábito por ter sido médico militar no Afeganistão.

[Lock]: A quanto tempo não come e não dorme direito?

[Tawson]: Hum?!

[Lock]: Eu sei quando um soldado tá com algum problema de saúde. Não é porque agora trabalho como agente que não exerço minha formação como médico.

[Tawson]: Esqueci que você tinha essa porcaria debaixo da manga… - Aguardou alguns segundos para responder - … Desde que encontrei a primeira vítima não tenho dormido bem e esqueço de comer às vezes…

[Lock]: Está tendo pesadelos?

[Tawson]: Também…

[Lock]: Tomando os remédios?

[Tawson]: Não preciso deles…

[Lock]: Por que não?

[Tawson]: Porque não sou louco, Lock! - Uma porrada na porta com a mão e a postura defensiva vieram a tona novamente, enquanto o outro apertava o volante firme, incomodado de falar sobre algo tão delicado. - Eu não estava bêbado, nem drogado, nem foi a separação com minha esposa que afetou minha cabeça! Eu sei bem o que vi naquele beco! Eu disparei contra ele! Tinha luz estranha na cara, não sei foi por causa do vapor dos encanamentos ou algo assim, mas algo entre o azul e o roxo quase fluorescente saía do rosto dele. Estava escuro e embaçado, foi tudo bem rápido, mas eu vi! Alguma passagem ou sei lá apareceu no ar e ele sumiu.

[Lock]: Já aconteceram tantas coisas estranhas na cidade que eu não duvido nem um pouco de você, mas ainda assim é difícil processar todas informações...

[Tawson]: Acha que não percebo os olhares estranhos quando entro la na delegacia? Ou os cochichos? Mas eu tenho um caso a resolver. Pessoas precisam ser encontradas, um assassino tem de ser preso, e as famílias das vítimas merecem justiça. Seja lá o que for que esteja fazendo esse inferno. Podem zoar com minha cara, mas não fodam meu trabalho!

O sinal ficou verde e o carro seguiu com os passageiros em silêncio. Viraram algumas esquinas, a cidade com poucas pessoas ainda circulando, saindo dos bares e casas de festa, ou ainda uns taxistas esperando algum chamado de ultima hora. Estavam quase na delegacia quando o motorista estacionou em frente a uma cafeteria, onde Lock desligou o carro e foi abrindo a porta para sair.

[Tawson]: Que porra ta fazendo?

[Lock]: Se você quer resolver esse caso logo, precisa de energia, precisa comer e descansar bem. Assim vai trabalhar bem melhor. Eu to cagado de fome, vou pegar algo para nós dois e comemos isso a caminho do serviço onde você vai ficar a par de tudo o que aconteceu hoje de noite. Nada de tirar satisfação o capitão! Vamos juntar toda essa sua energia pra confusão e usar para averiguar as evidências e os corpos lá no necrotério Ok?

Não havia como pestanejar ou resmungar, o ex-militar tinha a razão e um argumento relevante. Se negar a aceitar a sugestão levaria a tomar um falatório médico sobre de fazê-lo passar por uma bateria de exames e o quanto isso tomaria mais tempo e ainda poderia lhe presentear com um afastamento. Enquanto o mais jovem saiu para fazer os pedidos, Tawson ficou no carro olhando para a rua quando o sininho tocou e um homem alto saiu de dentro do estabelecimento com uma pilha de jornais debaixo do braço, até então parecia um cliente comum saindo do lugar quando após avançar alguns metros, ele cambaleou e deixou os papeis cairem, se recostando na parede de uma loja já fechada. Estava se sentindo mal? Taw reparou e saiu do carro com prontidão para ajudar o civil.

[Tawson]: Senhor, está tudo bem?

[Civil]: Hm!? S-Sim, sim… Acho que é só uma tontura.

O investigador vou se aproximando e quando o homem se virou os sentidos do grisalho o fizeram ter um arrepio pelo corpo inteiro. No mesmo instante ele sacou a pistola e apontou para o estranho que em meio a uma expressão de dor, mostrava-se incrédulo

[Tawson]: Parado! Mãos na cabeça e encosta na parede!

[Civil]: O que? Senhor, o que eu fiz?

[Tawson]: Cala a boca ou juro que te furo inteiro de bala! Anda logo!

[Civil]: Ta louco?!?

O policial desferiu um tiro no chão perto do pé do homem, mas este apenas olhou para o buraco perto do pé e não pareceu ter se assustado com o gesto. Tawson tirou as algemas do coldre e se aproximou com a arma apontando para a cabeça do moreno enquanto a destra pegava uma mão após a outra do civil e as algemava nas costas, empurrando-o contra a parede de tijolos e pondo uma das pernas entre os joelhos do cara para ele não tentar nada. Lock ouviu a confusão e saiu do estabelecimento as pressas com arma em punho olhando para o colega de serviço e o homem que estava de cabeça baixa.

[Lock]: O que houve, Tawson? Você ficou louco?

O grisalho estava sério e focado demais, segurando seu suspeito com uma certeza indubitável, apenas forçou a cabeça do rapaz com a pistola para fazê-lo virar o rosto em direção ao colega.

[Tawson]: Olha pros olhos dele e diz se eu ainda preciso da porra do remédio!

O loiro ficou alguns instantes parado fitando o homem capturado pelo seu parceiro,como ele podia explicar aquilo sendo médico? Como era possível os olhos de alguém mudar de cor feito um pisca-pisca neon? As íris do rapaz oscilavam entre o índigo e um lilás vivo como ametista. Enquanto tomavam todo o procedimento de prisão do homem para dentro da viatura a paisana, as pessoas da cafeteria pararam para olhar a cena pela porta e pela vitrine, curiosas pela cena que se passava na rua.

[Tawson]: Você está preso e tem o direito de permanecer calado, tudo que disser a partir de agora poderá ser utilizado contra você no tribunal!

Até o preso parecia tão perdido quanto os outros, afinal Keepler não fazia ideia do que diabos era aquilo que estava acontecendo e porque estava sendo levado.






Última edição por 【D.K】 Kєєρlєя Eиdєαvσυr em Dom Jul 14, 2019 4:21 pm, editado 3 vez(es) (Motivo da edição : Erro no divisor de paragrafo)

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